“Se dúvidas houvesse sobre a necessidade imperiosa de nos prepararmos, estes dados são esclarecedores”
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As declarações são do Pneumologista Filipe Froes, consultor da Direcção-Geral da Saúde para as doenças respiratórias e coordenador do gabinete de crise da Ordem dos Médicos, num comentário ao Observador sobre os resultados do primeiro Inquérito Serológico Nacional Covid-19.

O estudo, realizado pelo Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA), concluiu que “Portugal regista uma seroprevalência global de 2,9% de infeção pelo novo coronavírus na sua população [perto de 300.000 pessoas], não tendo sido encontradas diferenças significativas entre regiões e grupos etários”.

Filipe Froes sublinha o facto de “cerca de 44% dos indivíduos referirem não ter tido sintomas (ou já não se lembraram…) atribuídos à Covid-19 e, em teoria, seriam assintomáticos”, acrescentando que “não foram pesquisadas temperaturas subfebris (inferiores a 38° Celsius) ou queixas nasais, como por exemplo, perda total ou parcial do olfacto” no questionário do estudo em questão.

As principais conclusões na perspetiva de Filipe Froes são a “inexistência de imunidade de grupo e a quase total susceptibilidade da população para uma eventual segunda vaga”; o facto da transmissão em indivíduos assintomáticos ser “uma vantagem adaptativa do SARS-CoV-2 que contribuiu para a ocorrência da pandemia”, para além de se terem diagnosticado apenas 15% dos casos, “à semelhança de outros países”. “Este valor baixo de diagnóstico dos casos, justificou a manutenção de cadeias de transmissão mesmo no período de confinamento e a impossibilidade de baixar a curva de planalto”, defende o médico pneumologista, considerando ainda que “se queremos resolver a pandemia, temos de ter uma política mais agressiva de testagem, utilizar de critérios clínicos mais ligeiros (por exemplo, temperaturas ≥ 37,5º C, queixas nasais, perda de olfato ou de sabor) e procurar activamente os indivíduos assintomáticos”.

Analisando a ausência de diferenças significativas entre grupos etários, Filipe Froes entende que os dados do estudo do INSA “apontam para que as crianças não se infectem menos nem estão mais protegidas de se infectar”, afirmando que “este estudo nacional reforça, assim, o impacto do encerramento das escolas na contenção da pandemia e, em particular, no período de emergência”.

Quanto à maior seroprevalência verificada nos indivíduos do género masculino, Filipe Froes aponta como explicação possível “o maior número de recetores ACE-2 existente nas vias aéreas dos homens”.

Alertou também para dois grandes factores de risco na propagação de doenças, principalmente as infecciosas, que são “a iliteracia e a pobreza/precariedade”, reiterando que “no combate pessoal contra a pandemia, o conhecimento é a nossa melhor defesa e o fator mais decisivo no desenvolvimento de uma sociedade”.

Em suma, Filipe Froes denota que os dados do estudo serológico excluem qualquer dúvida “sobre a necessidade imperiosa de nos prepararmos”, num artigo de opinião para ler na íntegra aqui.

*Fotografia: © Observador