Prof. Ruy Ribeiro defende que medidas de contenção são impreteríveis para controlo da pandemia
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senhor de barba e óculos

 

O Prof. Ruy Ribeiro reiterou a importância das medidas de contenção, que são necessárias e urgentes para evitar a propagação do novo coronavírus. Em entrevista à TVI 24, o Professor Associado com Agregação da FMUL, que dirige a Área Disciplinar Autónoma de Bioestatística, comentou o recente alerta da Organização Mundial de Saúde (OMS) sobre o possível agravamento da crise sanitária mundial, em que o Diretor-Geral anunciou que “demasiados países estão a ir na direção errada, o vírus (SARS-CoV2) continua a ser o inimigo público número um" e "Se as regras básicas [sanitárias] não forem cumpridas (...), a pandemia só vai ficar pior e pior e pior".

Na opinião do Professor, o comunicado da OMS “reflete aquilo que nós esperamos de uma infeção como a que ocorre com este vírus, que será propagar sempre que as condições forem propícias para isso”, afirmou, realçando que “só se pode minorar isso com a intervenção dos governos e dos países com medidas como o distanciamento social, a utilização de máscaras, evitar os contactos, os espaços fechados e com muita gente”.

Ruy Ribeiro adiantou, ainda, que há países onde as medidas para conter a disseminação da doença não têm sido aplicadas “tão eficazmente, e são esses países que, de certo modo, são mais preocupantes”, referindo-se aos Estados Unidos, Índia, Brasil e México, que têm registado um aumento significativo de novos casos de covid-19.

Considera que o SARS-Cov-2 “vai-se propagar durante muito tempo até nós conseguirmos controlá-lo”, uma realidade que, acredita, só ser possível através de uma de duas maneiras. “Ou se desenvolve uma vacina eficaz, que se consegue pôr no terreno” e em todo o mundo, “ou então o vírus vai-se continuar a propagar até haver um número tal de pessoas infetadas ou que já tenham sido infetadas e seja mais difícil o vírus espalhar-se”.

Não há certezas em relação ao tempo que levará para alcançarmos um dos cenários plausíveis, mas atentando nas epidemias com vírus respiratórios do passado, Ruy Ribeiro afirma que é expectável prolongar-se por um ou dois anos.

Sobre o “timming” de uma eventual segunda vaga e as conclusões que os especialistas podem inferir no momento, o Professor revela que se trata de uma questão “complicada” e que tem gerado desacordo entre os próprios investigadores. “A segunda vaga é uma ideia que vem de observarmos as epidemias do último século, principalmente de gripe, e houve cinco casos em que parece ter havido duas vagas, uma na primavera e depois no inverno seguinte, e isso pode acontecer por várias razões, mas nós não temos a certeza, nem podemos saber se vai ou não existir uma segunda vaga no caso do SARS-Cov-2, nem qual será o seu impacto. O que sabemos é que no inverno as pessoas estão mais fechadas em casa, há mais contactos em espaços fechados e o vírus tem maior probabilidade de sobreviver em ambientes húmidos e frios”, explicou.

Ruy Ribeiro esclareceu, também, que “nunca era esperado que os casos desaparecessem completamente ou que conseguíssemos até erradicar o vírus durante uns meses” com o aumento das temperaturas, o que deitou por terra a teoria de que o novo coronavírus não resistiria ao calor. Para elucidar a situação atual, o Professor estabeleceu o paralelismo com “um incêndio que é controlado, mas se não são apagados todos os focos, quando deixamos de ter as forças de combate – neste caso o confinamento – vai haver uma nova propagação, um reacendimento, que é o que está a acontecer”.

“Apesar de tudo”, refere, “parece-me que o número de casos que temos vindo a observar em Portugal e na Europa é menor se calhar do que o esperado, o que significa que as medidas implementadas e a responsabilidade das pessoas usarem a máscara em todos os espaços fechados, evitar locais com muita gente, tudo isso está a ter um efeito muito importante. Acho que é preciso as pessoas terem a noção de que não temos mais casos devido ao efeito que estas medidas têm”, concluiu Ruy Ribeiro, apelando à responsabilidade de todos para se manterem comportamentos defensivos e o respeito pelas medidas de segurança, impreteríveis para o controlo da pandemia.