"A pandemia veio revolucionar o serviço do CHULN" afirma o Professor José Melo Cristino
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homem de bata branca, com máscara no laboratório
Créditos de imagem: jornal Diário de Notícias

 

José Melo Cristino, Professor e Presidente do Conselho Científico da FMUL, em entrevista ao Diário de Notícias falou sobre o “admirável mundo da tecnologia” e o número de testes realizados no Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte (CHULN).

É no Laboratório de Patologia Clínica do CHULN, no Hospital de Santa Maria, que se fazem todos os testes de diagnóstico à covid-19, pedidos pelo hospital, mas também por outras unidades de saúde, lares e instituições similares. Ao todo, e desde março do ano passado, já foram feitos mais de 120 mil testes, com uma média diária de 700 a 800, sendo que nas últimas semanas, com a explosão da doença, chegaram a atingir mais de mil por dia, e ao fim de semana 400.

O Professor afirma que, se ainda há um mês, a positividade nos testes diários era de 10% e nas últimas semanas chegou a ser de 18%, "a positividade varia consoante a origem dos doentes e de dia para dia”.

"Encaramos tudo da mesma maneira, não lidamos com os doentes, só com os produtos e com as máquinas. Não há serviço no hospital com mais máquinas do que nós", admitindo que a pandemia veio reforçar ainda mais esta faceta da patologia clínica.

“A pandemia veio revolucionar o serviço”, diz o Professor. Recorda o inicio da pandemia e os desafios que isso trouxe ao serviço, “criámos equipas próprias, mas também tivemos que as treinar e ensinar a lidar com as amostras e com o vírus devido às questões de segurança que impunha.” Optaram sempre por ter equipas de dois técnicos que só fazem estes testes, até para o caso de alguém adoecer o laboratório não falhar.

Antes da pandemia, da meia noite às oito da manhã, só o laboratório do serviço de urgências ficava a funcionar, agora há máquinas que nunca deixam de trabalhar. “Todos os testes de diagnóstico à covid-19 pedidos até à meia-noite são feitos, e numa só noite já chegámos a retirar 330 resultados, que pela manhã têm de seguir para a estatística do Ministério da Saúde”, revelou.

Dos testes realizados no laboratório do CHULN, 99,9% são testes PCR, “os outros não têm praticamente expressão.” Revela ainda ao jornal que já fazem testes rápidos moleculares desde Junho do ano passado, mas que o fornecimento destes “é muito escasso. De 15 em 15 dias recebemos 150 testes. Portanto, temos de ser restritivos no seu uso. Só os fazemos quando o médico clínico e o médico do laboratório decidem que o caso suspeito justifica um teste destes.”

No início da pandemia tudo era desconhecido, “não sabíamos com o que estávamos a lidar em termos de segurança, tínhamos pouca informação e víamos as imagens de outros países e ficávamos assustados, mas colocámos logo os níveis de segurança no máximo.” Acrescenta ainda que, nunca existiu um surto dentro do laboratório. Houve casos de infeção, mas de pessoas que se infetaram fora e que não transmitiram a ninguém no serviço.

Para além do desconhecido causado pela COVID-19, a falta de material foi o “outro problema dramático”, confessou o Professor. "Tínhamos algum material, depois faltou tudo, até as coisas mais elementares, como reagentes e zaragatoas, que aumentaram de preço 20 vezes e que mesmo assim não havia". Conta que, chegaram ao ponto de só terem reagentes para o dia seguinte porque as empresas não conseguiam fornecer mais material, ficava tudo em Espanha e Itália, que estavam piores que nós.

"Hoje temos material da Coreia do Sul, da China, da Europa e dos EUA". Mesmo assim, e apontando para as caixas empilhadas, remata: "O que vê aqui só dá para umas três semanas." As caixas encontram-se na zona da microbiologia. "É a zona que lida com o material mais perigoso do hospital, mas onde há menos acidentes".

Desafio na carreira profissional, foi assim que o Professor confessou ver a pandemia.