O Serviço “invisível” do Professor Melo Cristino que testa o SARS-CoV-o2
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“10 de Março a 9 de Abril 2020. No primeiro mês de diagnóstico fizeram 5343 pesquisas de SARS-CoV-2. Parabéns!! É um exemplo e um motivo de orgulho para todos! Obrigada pela dedicação e competência de todos”. A mensagem pode ler-se na porta que dá acesso ao laboratório de biologia molecular do Hospital Santa Maria e serve de mote para o artigo do jornal Público, que revela o trabalho rigoroso e dedicado de uma equipa “excecional”. Assim o descreve o Professor José Melo Cristino, diretor do serviço de Patologia Clínica do Hospital de Santa Maria e presidente do conselho científico da FMUL, numa entrevista que realça os mais de 15 mil testes de PCR em tempo real para diagnóstico da covid-19 que ali já foram efetuados, bem como os 900 testes serológicos realizados para determinar o eventual contacto e imunidade ao vírus.

José Melo Cristino explicou que não houve necessidade de adquirir novas máquinas para o diagnóstico do SARS-CoV-2, mas foi necessário formar mais sete técnicos para o efeito. E não obstante a “apreensão normal do início”, o Professor adianta que aqueles que dedicam “16 e 18 horas, quando deveriam ser oito”, no desenvolvimento de testes à Covid-19 “não tiveram medo”. “Perceberam do que estamos a falar”, garantindo que o risco de transmissão no laboratório “é baixo” e não houve casos de infecções no trabalho. De acordo com o Público, houve dois casos positivos que se acredita terem ocorrido fora do hospital, e ao primeiro sintoma suspeito de infecção, os profissionais são encaminhados para a saúde ocupacional.

Por estes dias, no serviço de Patologia Clínica do HSM ninguém circula sem máscaras, redobrando-se os cuidados com as regras de segurança, já habituais num local onde se lida diariamente com agentes infecciosos e decorrem muitas outras análises para confirmação de doenças provocadas por um vasto leque de bactérias, fungos e vírus.

Os técnicos que se dedicam ao diagnóstico da Covid-19 estão limitados a uma área específica, explicou o Professor Melo Cristino, mostrando o “circuito covid” e os procedimentos inerentes à testagem da doença. Da descontaminação dos frascos das zaragatoas ao trabalho de manipulação das amostras na câmara de segurança, cada passo dado cumpre critérios rigorosos. “Para se fazer a detecção do vírus são precisos dois passos. Primeiro, a extracção, que é tirar o RNA do vírus, e o outro que é a amplificação, que é aumentar muito as cópias do DNA do vírus”, esclarece, acrescentando que o serviço de Patologia Clínica do HSM está dotado de quatro aparelhos para fazer a amplificação, sendo que o maior permite a análise de 94 amostras de cada vez e, neste caso, faz tudo. “A extracção dos ácidos nucleicos, a amplificação e dá os resultados em três horas, três horas e meia”.

Segundo o Professor Melo Cristino, todos os dias são feitos em média 400 a 500 testes PCR “aos doentes que vêm ser operados, aos pais de crianças internadas, aos pais na obstetrícia, aos doentes oncológicos todas as semanas”, para além da análise a utentes e profissionais de lares, bem como residentes de pensões da região.

A publicação, exclusiva para assinantes e que pode consultar aqui, refere que os níveis de positividade têm sido baixos, à semelhança do número de doentes a precisar de internamento. “Nas últimas semanas, a média do centro hospitalar tem-se situado em cerca de 40 doentes na enfermaria e 20 em cuidados intensivos. Também testaram mais de 1200 profissionais do centro hospitalar. Os casos positivos têm sido poucos: cerca de 75 profissionais infectados, dos quais 30 estão curados”, avança o jornal Público.

A larga encomenda de material efetuado em meados de fevereiro permitiu “stocks bons”, não se tendo registado, até à data, falha de reagentes nem zaragatoas, assegura o Professor Melo Cristino.

No serviço que fica “com o que os outros não querem”, o ritmo aumenta em tempos de pandemia e todos os que ali trabalham têm cumprido, orgulhosamente, as exigências acrescidas dos tempos que correm. “Todos são essenciais. Sem uns ou outros, o serviço não funcionava”, realça o Professor.

Com o desconfinamento têm-se verificado um aumento substancial nas análises diárias e o ritmo da central de colheitas mostra sinais de mudança, contrariamente ao que se assistiu em pleno estado de emergência. Cita a publicação que, no início da última semana de Abril, a média de análises diárias estava em 300 por dia, ainda longe das habituais 700.

Durante a visita em que deu portas aos cinco laboratórios, para além do de biologia molecular, do serviço de Patologia Clínica do HSP, o Professor Melo Cristino explicou que “é a partir do soro que se fazem todas as análises” e “a serologia da covid vai ser introduzida num destes aparelhos [aparelho gigante, dividido em várias estações – cada uma programada para fazer determinadas análises] a partir deste mês”. Um tipo de teste que teve início no Hospital Santa Maria a 22 de abril, aplicado “a doentes e profissionais que já tiveram a doença e a alguns casos de doentes que tiveram sintomas que levantaram uma suspeita forte, mas que deram no negativo do PCR. Ao final de uma semana tinham realizado cerca de 220 testes a doentes e profissionais. Neste momento, já vão em 900 testes serológicos”, avança a publicação. “Se o IgM for positivo, sabemos que teve contacto com o vírus. É importante saber se têm anticorpos, mas ainda não sabemos acima de quantos é protector e se são duradouros. Queremos ter tudo documentado”, elucida o Professor Melo Cristino na entrevista onde revela, também, que “nunca tinha vivido uma situação como esta”, aludindo à pandemia provocada pelo SARS-CoV-2. “A gripe de 2009 foi uma brincadeira comparado com isto. Havia medo, mas o país não parou”. Considera que “o grande desafio agora é voltar à actividade anterior e manter a resposta à covid com as mesmas pessoas. Iremos analisando e, se se justificar, contrataremos mais alguém”, conclui.