O marketing alimentar dirigido a crianças é um dos fortes componentes do ambiente obesogénico em que vivemos. Um ambiente caracterizado, segundo Boyd Swinburn, por um “conjunto de influências, oportunidades e condições de vida que são promotoras de obesidade”.
A evidência é consistente quanto à influência do marketing alimentar nos hábitos alimentares das crianças. São vários os estudos que mostram que o marketing alimentar tem um impacto negativo nas preferências das crianças por alimentos com elevada densidade energética e baixa densidade nutricional. E esta associação torna-se ainda mais preocupante com o mundo digital. Com a tecnologia e com os meios de comunicação digitais, sugiram novas e mais poderosas estratégias de marketing alimentar. Geralmente são necessárias quatro a sete exposições a uma mensagem publicitária para que ocorra potencialmente uma mudança de comportamento, mas os meios de comunicação digitais podem amplificar consideravelmente este efeito (quadruplicar).
Ao nível da União Europeia (UE) são hoje vários os documentos legais e estratégicos que reforçam a importância de reduzir a exposição das crianças à publicidade de alimentos. Destes destacam-se a nova Diretiva da UE relativa aos Serviços de Comunicação Social Audiovisual, o Europe’s Beating Cancer Plan e a EU Strategy on the Rights of the Child.
Portugal tem sido um país pioneiro no que respeita à regulação da publicidade alimentar dirigida a crianças. Desde 2019, que no nosso país existe uma lei que introduziu um conjunto de restrições à publicidade de alimentos não saudáveis dirigida a crianças, abrangendo restrições a diferentes meios/canais de comunicação, incluindo o digital. Apesar disso, a transição da publicidade alimentar e dos meios de comunicação tradicionais para o marketing digital tem também colocado sérios desafios à efetividade desta Lei. Desde logo, pelas dificuldades sentidas ao nível da sua monitorização. Felizmente que a inovação tecnológica também poderá dar o seu contributo para esta matéria. Estamos hoje a testar a utilização de algumas ferramentas digitais que nos permitem monitorizar a exposição das crianças ao marketing digital de alimentos.
Foi neste contexto que a Presidência Portuguesa do Conselho da UE, em particular o Ministério da Saúde, lançou no passado dia 29 de junho, um Apelo à Ação – The Lisbon Call to Action – To protect children from obesogenic food enviroments. Com este apelo à ação pretende-se incentivar diversos atores e parceiros a desenvolver ações para proteger as crianças dos ambientes digitais promotores da obesidade.
Maria João Gregório, Diretora do Programa Nacional para a Promoção da Alimentação Saudável da Direção-Geral da Saúde