A evolução didática das aulas na Faculdade de Medicina de Lisboa, onde estudei, conclui a licenciatura, me doutorei e exerço funções de docente, apresenta um aperfeiçoamento considerável nestes últimos 50 anos.
Durante estas décadas, foi notório e deveu-se ao desenvolvimento dos meios audiovisuais, com as suas duas componentes visual e de suporte sonoro, na elaboração das aulas teóricas, teórico-práticas e práticas.
No início, na década de 70 ainda aluno, existiam quadros desenhados, pendurados em suportes, que representavam algumas, poucas imagens, ou eram desenhadas no quadro de ardósia com giz, o que por demora na sua execução e por vezes por imperícia de “design” do docente, tornavam as aulas aborrecidas e impercetíveis com o que pretendiam representar.
Não existia suporte sonoro nesta década, que apareceu nos finais da década seguinte. Algumas salas de aulas apresentavam uma péssima acústica, o que condicionava o docente a saber projetar a voz, para tornar percetível o conteúdo a lecionar. Lembro por exemplo uma aula de obstetrícia lecionada na Maternidade Alfredo da Costa, num anfiteatro com más condições acústicas onde nas filas mais distantes do docente, era impossível perceber o seu conteúdo, um dia um docente conseguiu que todos os alunos percebessem o teor da aula. Fiquei perplexo por tal, mais tarde tive conhecimento que o docente que tão claramente tornara audível o conteúdo exposto era um conhecido cantor lírico, o Dr. Alvaro Malta.
No entanto, existiam anfiteatros de aulas com más condições acústicas, como por exemplo o de Anatomia, que possuía um desenho representado no chão, que ainda hoje existe, no qual o docente deveria permanecer, para se tornar audível em toda a sala.
O suporte sonoro aparece na década de 80, na aula Magna da Faculdade de Medicina de Lisboa com microfones manuais, que no início da década seguinte se generalizou aos diferentes anfiteatros. O aparecimento de microfones na lapela surge na década de 2000, primeiro na aula magna e posteriormente por toda a faculdade.
Relativamente ao suporte visual, após a fase dos quadros expostos na sala de aula, aparece a elaboração de slides a preto e branco, por vezes executados por técnicos com formação fotográfica, que alguns Institutos privilegiados possuíam, como por exemplo o de Fisiologia.
Na década de 80, para tornar as aulas mais atrativas, alguns docentes pintavam com canetas de feltro as letras brancas dos slides com fundo preto, ou colocavam papel de celofane colorido (vermelho ou amarelo) no seu caixilho.
Existia sempre a possibilidade da execução de slides com fundo azul, realizados por profissionais, muito bonitos mas bastante dispendiosos. Recorria-se a esta técnica, sempre que existisse uma apresentação mais importante, por exemplo nas provas de Doutoramento ou em comunicações científicas. Um problema comum ao uso de slides era o seu “encravamento” nos projetores.
Na década de 90, aparece o papel de transparência que permitia fotocopiar figuras dos livros de texto e desenhar nelas com o auxílio de canetas especiais, outras figuras ou legendas de modo a tornar as aulas mais didáticas, atrativas, interativas e projetadas por retroprojetores. A deficiente qualidade deste papel danificava a fotocopiadora, por derreter no seu interior, devido ao intenso foco de luz necessário para fotocopiar. No entanto, alguns docentes utilizavam este material para realizar as suas leituras na íntegra, durante as suas exposições.
Mas o grande avanço na elaboração das aulas aparece com o PowerPoint e a digitalização de imagens. Embora criado na década de 90, só em meados da década seguinte se tornou de uso corrente, derivado ao grande investimento desenvolvido pela faculdade. Este facto, permitiu a elaboração de texto animado ou não, fazer a digitalização de figuras de livros ou de trabalhos científicos e projetá-los via data-show.
Por fim, com a criação da internet surgiram na década de 10 sites interativos, que se podiam selecionar e projetar durante as aulas.
Doutor Alberto Escalda
Professor Auxiliar da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa