iMM Corner
Porque é que o cérebro deixa de comunicar com o corpo?
A busca por respostas continua a ser a motivação do Instituto de Medicina Molecular que no passado dia 19 de Junho, no Grande Auditório João Lobo Antunes, promoveu a 3ª sessão do Ciclo de Conversas Horizontes iMM: uma pergunta a três. Nesta sessão, o assunto em epígrafe foi a Doença de Parkinson, e como vem sendo habitual, para responder à pergunta em cima da mesa, foram convidados um médico, uma investigadora e um doente.
Uma sessão que contou com casa cheia, não só pela relevância do tema, mas também devido à homenagem ao falecido Professor João Lobo Antunes, que neste mês celebraria mais um ano de vida.
Porque é que o Cérebro deixa de comunicar com o corpo? – É a pergunta que origina a discussão entre a investigadora Luísa Lopes, o Prof. Joaquim Ferreira e o Dr. Paulo Teixeira Pinto, moderada por António Barreto.
De acordo com o Prof. Joaquim Ferreira, o cérebro não deixa de comunicar com o corpo, dá-lhe antes ordens erradas. Caso contrário, como é que se explica que o doente tenha dificuldade em andar, mas demonstre total destreza ao andar de bicicleta, como nos provou acontecer num vídeo. Curioso, não é?
Intrigante parece ser o adjetivo correto para caracterizar uma doença que nem identificação própria tem, tendo herdado o apelido do médico inglês que melhor a conseguiu descrever no Séc. XIX - James Parkinson.
Logo no início da sessão, moderada por António Barreto, o Prof. Joaquim Ferreira, na qualidade de clínico e docente, faz-nos um enquadramento desta doença sobre a qual pouco sabemos, pois segundo palavras do próprio: “Nós sabemos muita coisa sobre a doença, mas sabemos ainda que sabemos pouco.”
O que é a Doença de Parkinson? - Uma doença neurodegenerativa que implica a perda gradual de células cerebrais e que por isso afeta a coordenação motora e também a função cognitiva do doente. Não sabemos a causa da morte celular, mas sabemos que a morte das células tem implicações na produção de dopamina - a substância que funciona como mensageiro cerebral do movimento aos restantes membros do nosso corpo. Os sintomas já nos são familiares, até porque ainda de acordo com o Professor, a doença é tão frequente que estima-se que atinja quase todas as famílias portuguesas, em pelo menos um elemento. Tremores, limitação de movimentos, lentidão na execução de tarefas, andar rastejante, caligrafia mais pequena são alguns dos sintomas enumerados como os mais denunciadores da doença, porém não podemos menosprezar outros, com igual reflexo no estado de espirito dos doentes como os sonhos, as perturbações de memória, a dificuldade na fala e no pensamento.
Quando lhe solicitado, Paulo Teixeira Pinto, jurista, ex-banqueiro e ex-político dirige-se para o púlpito com o objetivo de dar o seu testemunho na qualidade de doente de Parkinson. Depois da enumeração de sintomas, acima mencionados, seria expectável identificar alguma dificuldade motora durante o seu curto trajeto, mas somos surpreendidos pelo seu passo firme e dicção lógica. É durante o seu testemunho que evidencia grande coragem e determinação ao afirmar que “O Parkinson não é a pior coisa que pode suceder a um homem”. Apesar do prognóstico da doença nos dizer que não existe uma cura, Paulo Teixeira Pinto acaba por partilhar com a audiência, que nunca se recusou a tentar todas as propostas de tratamento, mesmo que experimentais, querendo mesmo doar o seu corpo à ciência, após a sua morte.
Qual é o tratamento? - O tratamento mais atual passa ainda pelo controlo dos sintomas através de medicamentos que estimulem a libertação de dopamina, nomeadamente, a Levodopa. Mas, é ao ouvirmos a investigadora Luísa Lopes, Group Leader do iMM, que nos apercebemos dos esforços da ciência para conhecer melhor a doença. O grande desafio para os investigadores é perceber se há doentes em risco o mais cedo possível. Não obstante, já é possível aos investigadores diferenciar neurónios a partir das células de pele dos doentes, isto porque não é usual retirar-se tecido cerebral de um doente, procedimento mais comumente chamado de biopsia. Paralelamente a este avanço, existem também 2 abordagens, testadas em ensaios clínicos, e consideradas pela investigadora como promissoras, nomeadamente, a Imunoterapia e a Infusão de medicamentos no cérebro dos doentes. Mesmo parecendo encorajador as duas abordagens experimentais acarretam riscos, por serem considerados procedimentos invasivos: “O cérebro biologicamente está protegido para não chegar lá nada muito rapidamente (…) Portanto, nós temos de transpor essas barreiras, o que torna qualquer intervenção invasiva” afirma Luísa Lopes.
Podemos prevenir a doença? - Enquanto a ciência continua a perseguir tratamentos alternativos e a avaliar a sua exequibilidade, médico, cientista e paciente deixam bem clara a necessidade de se apostar numa equipa clínica multidisciplinar, para acompanhamento do doente, que envolva não só um neurologista, mas também um fisioterapeuta, terapeuta da fala e nutricionista, afinal de contas, a alimentação e o exercício físico são pilares do bem-estar de qualquer ser humano e num doente com Parkinson não poderia ser diferente. Contudo, é Paulo Teixeira Pinto quem assume que o denominador comum para enfrentar o Parkinson é a atitude: “Devemos enfrentar a doença tal como ela é”.
Em jeito de conclusão, foi dada a oportunidade à audiência de fazer alguns comentários e perguntas, mas é o moderador da sessão, António Barreto, quem coloca a questão difícil sobre a forma do nosso Sistema Nacional de Saúde lidar com a Doença de Parkinson. Apesar da sensibilidade da questão, é o Prof. Joaquim Ferreira quem mais à vontade se sente para esclarecer que o corpo clínico existente nos nossos hospitais é altamente competente, sendo que as maiores necessidades se prendem com a inexistência de centros de excelência, onde se desenvolva investigação sobre a doença, e a falha no acesso a cuidados médicos no interior do país.
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Isabel C. Varela
Equipa Editorial