Reportagem / Perfil
Uma conversa a 6…com os Discentes do Pedagógico
Se há coisa que é característica inata em todos os estudantes que tenho conhecido é a pontualidade exemplar, nem um minuto antes, nem um depois.
Entram todos com um sorriso rasgado que inspira uma franqueza natural, revejo a Catarina Bravo e conheço a Joana Bastos, o João Torres e o Guilherme Vilhais. Minutos depois chega a Liliana Pacheco e só depois o Francisco Baptista. Todos eles discentes efetivos do Conselho Pedagógico da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa e que terminaram em abril o seu mandato, à exceção do Francisco, que neste mandato era discente suplente, juntamente com a Mariana Caetano, a Inês Mendo, o João Afonso, o João Antunes e o João Martins, e que no passado dia 9 de abril tomou posse com o seu novo grupo de Discentes, agora como membro efetivo.
Órgão de gestão pedagógica da FMUL, o Conselho Pedagógico é composto por 6 docentes e por 6 estudantes, em caso de empate numa votação é o Presidente do Conselho que decide.
Com acesso privilegiado a dois mundos, o grupo dos Discentes da CP convive entre o universo académico e o dos Professores. Nesta balança de comunicação permitem-se a representar uma voz coletiva dos alunos, assumindo-se como os interlocutores com os Docentes.
Com um ano de mandato que chegou ao fim no mês de abril, encontro-me com 5 dos Discentes efetivos, porque a Clara Oliveira não conseguiu estar presente. Comigo fazem o balanço do que foi feito e do que quereriam ainda dizer.
Habituados a ter apenas uma lista de Discentes a concorrer, defendem um trabalho de continuidade, não se notando as transições abruptas de novas personalidades. A Catarina e a Joana atravessaram três mandatos juntas, o João, a Liliana e o Guilherme dois, e o Francisco um.
Todos eles assumiram responsabilidades e defendem que as ideias ganham força se forem faladas, mas essencialmente postas em prática. Na responsabilidade de dar a cara, mesmo pelos movimentos menos populares, há como que um sentido social, uma missão.
É curioso esse consenso que os une para tudo, em nada falam dos seus pares com rivalidade e mesmo que houvesse listas várias a concorrer, não seriam rivais, dizem-me, seriam apenas listas parceiras.
Em tudo o que os desafiámos eles corresponderam, ajudaram-nos num trabalho conjunto onde se envolveram com empenho, alma. Ganharam uma facilidade quase altruísta de se saberem colocar no lugar dos outros, acreditam no fim comum se ele for para o bem da maioria. Falso puritanismo? Não, de todo, é sentido de responsabilidade!
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Tendo alguns de vocês estado em mais do que um mandato no CP, tiveram a possibilidade de acompanhar dois Presidentes diferentes, a Professora Isabel Pavão Martins e depois o Professor Joaquim Ferreira. Dessa relação com um e com outro o que retiram de principal?
Catarina: Tivemos a oportunidade de trabalhar com ambos em momentos diferentes dos respetivos mandatos. Com a Professora Isabel Pavão Martins, trabalhámos numa fase mais avançada do seu mandato, enquanto com o Professor Joaquim Ferreira numa fase mais inicial. Contudo, com ambos os Professores crescemos e aprendemos muito e terminámos os mandatos sentindo que tínhamos cumprido a nossa missão como Discentes. No último mandato, com a Professora Isabel P. Martins, conseguimos concluir objetivos traçados há mais tempo, inclusivamente por outros discentes em mandatos anteriores, e foi muito importante e enriquecedor alcançá-los. Com o Professor Joaquim Ferreira estivemos apenas um mandato, e apesar de ter passado somente um ano, foi um período muito cheio, em que conseguimos ver várias mudanças na nossa Faculdade. Com o Professor aprendemos a importância de definir prioridades e de nos focarmos naquilo que conseguimos, em conjunto, mudar no momento, a mais curto prazo. O Progress Testing foi um bom exemplo de uma mudança que foi possível ver concretizada num curto espaço de tempo e que nos deixa muito felizes, foi uma ideia do Professor e que nós apoiámos e ajudámos a fazer crescer.
Joana: Quando olhamos para trás e revemos este ano de mandato temos noção que começámos com um mindset, com um tipo de prioridades, que depois foram reajustadas. Já tínhamos uma ideia da filosofia do Professor que era mais on target, on point, com coisas facilmente operacionalizáveis e que daqui a seis meses teriam resultados. E nós não estávamos habituados a isso e tivemos de ser mais precisos e aprender, mais do que nunca, que as nossas batalhas, mais do que dos Discentes, são do Pedagógico. Só todos juntos conseguimos coisas no imediato e, de facto, conseguimos atingi-las e foram coisas que nos dispusemos a ajudar e que, não sendo causas nossas, sentimos como nossas pelo grande benefício que, reconhecemos, trouxeram e trazem aos estudantes. O Progress Testing, mas também a App myFenix, o Código de Honra.
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O Código de Honra foi uma iniciativa recente?
Joana: Sim! Eu e a Liliana fomos as que estivemos mais diretamente envolvidas, mas depois todo o núcleo considera que a integridade, como ponto assente em todos os estudantes nesta Faculdade, tem que existir desde o primeiro até ao último dia em que somos alunos desta casa. O Código de Honra vem materializar, na perfeição, a nossa visão. Foi mais uma ideia que partiu do Professor. Neste mandato sinto que mais do que batalhas, tivemos vitórias de sinergias que foram absolutamente fantásticas e que não estávamos à espera.
Foi um desafio trabalhar com o Professor Joaquim Ferreira?
Catarina: Foi um desafio extremamente enriquecedor. Com o Professor aprendemos e crescemos muito.
Joana: Foi sem dúvida, mas que hoje em dia é muito mais gratificante se olharmos para trás.
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Mas que também tem reflexos para a frente certamente.
Joana: Uma das heranças importantes que deixámos foi aproveitar com humildade a oportunidade de os Discentes e os Docentes do CP terem, neste momento, uma plataforma de comunicação que é muito benéfica para a Faculdade.
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E o Progress Testing conseguiu avançar?
Catarina: Sim, foi uma ideia do Professor, que nós de imediato apoiámos. Juntos demos-lhe nome e ajudámos a criar o conceito. E ainda que a ideia tenha surgido numa reunião muito próxima da data que julgaríamos ser a melhor para este teste (antes das primeiras épocas de exames começarem), pensando que não poderíamos deixar passar um ano até termos a primeira edição e perder um ano de potencial otimização e melhoria para uma edição futura, abraçámos em conjunto este projeto, foi criada uma Comissão de Docentes para tal, e assim surgiu a primeira edição, o que nos deixou particularmente felizes.
Guilherme: Falou-se pela primeira vez em fevereiro.
Joana: Num mês tínhamos de testar. E quanto mais tempo testássemos, mais oportunidade dávamos para que em anos futuros o processo já estivesse otimizado. Por isso atrasar um mês era atrasar um ano para termos uma primeira experimentação deste modelo. Isto também reflete o que nós herdámos do Professor (ri), agilizar e fazer, mesmo que depois se vá melhorando.
Guilherme: Esta mentalidade foi algo que desenvolvemos muito neste mandato. É aquela ideia do "vamos aprovar e depois otimizamos, mas vamos avançar". Não ficámos à espera de tentar corrigir todas as falhas antes de implementar, porque isso torna o processo pouco ágil e atrasa em meses e anos os procedimentos. O pragmatismo que ganhámos, sobretudo neste mandato, foi uma característica que conseguimos adquirir de forma benéfica, especialmente por termos apanhado esta transição. Tendo os Professores formas de trabalhar muito diferentes, foi uma excelente oportunidade explorar essas diferenças e termos de nos adaptar às diferentes personalidades de cada um.
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Sentiram algumas vezes que eram os portadores das notícias difíceis diante dos vossos colegas? Porque o Progress Testing é um desafio à partida menos "divertido" do que uma festa académica, ou um workshop mais lúdico... É um teste que exige empenho e que expõe diante do próprio as suas fraquezas.
Joana: Claro que há grupos mais populares do que nós. (ri) Nós não promovemos a festa, é verdade. No entanto nunca senti pessoalmente nada, mas tenho noção que isto de se promover a integridade académica pode ser um discurso mais aborrecido. Se há coisa que o Professor Joaquim Ferreira nos trouxe foi perceber o sentido de sermos representantes dos nossos, em algum grau. Mas também existe uma componente importante naquilo em que acreditamos ser o melhor, não só para nós, mas para o Conselho Pedagógico e para a Faculdade. Por isso não nos arrependemos de ser mais sérios, porque será o melhor para nós agora e para o futuro, também.
Catarina: Sentimo-nos mensageiros de pontos de vista a que os nossos colegas não têm acesso e que podem contribuir para mudar a sua visão acerca de várias temáticas. Exemplo disso são os inquéritos de avaliação do ensino. Todos nós reconhecemos que é exigente em termos de tempo preencher estes inquéritos, e se nos ficássemos apenas pela visão do esforço que exige e não soubéssemos as consequências que este esforço pode ter de facto para a melhoria do ensino na Faculdade (mesmo que as mudanças ainda não sejam tão palpáveis como gostaríamos), provavelmente também ficaríamos a achar que poderia ser um esforço inglório. Mas nós sabemos que não é perder, mas ganhar tempo porque estamos cientes de que isso vai beneficiar a nossa Escola e a nossa formação e a dos colegas que virão no futuro, e é esse tipo de mensagens que procuramos passar.
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Este vosso papel de interlocutores entre alunos e Professores permite-vos ser os verdadeiros agentes da mudança?
Guilherme: Existem três Órgãos que representam os estudantes, a Associação (AEFML), nós (C. Pedagógico) e os Discentes do Conselho de Escola e é engraçado perceber o nosso papel nessa representação tripartida. Em alguns pontos partilhamos posições e temos batalhas comuns, mas somos diferentes. A nossa função passa muito por perceber os dois lados, tendo contacto próximo com Professores, e debruçamo-nos sobretudo sobre o ensino na Faculdade. Depois é importante estabelecer essa relação de proximidade com os nossos colegas.
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Mas parece-me que no Conselho de Escola os alunos têm menos peso. Não?
Catarina: É diferente, porque enquanto do Conselho de Escola fazem parte apenas 3 Discentes efetivos, no Conselho Pedagógico há um igual número de Docentes e Discentes, uma das características que diferencia este órgão.
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Cálculo que achem essa paridade de 6 para 6 justa... Será que os Professores também acham o mesmo?
Joana: Os Professores têm mais peso porque o Presidente tem voto de qualidade e existindo uma questão muito fraturante, quem prevalece são os Professores.
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E há essas questões fraturantes?
Joana: Nós ouvimos relatos históricos, mas nunca sentimos muito isso na pele.
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Num mês em que nos dedicamos à relação aluno versus professor e na perspetiva de quem conviveu diariamente com professores e partilhou com eles o mesmo peso de decisão, que relação se espreme daí? Há uma hierarquia muito demarcada ou é a curiosidade do aluno que move e motiva o próprio professor?
Catarina: No CP, existe uma relação muito próxima entre Professores e Alunos. Aluno e Professor potenciam-se, da discussão conjunta de Docentes e Discentes, pares num mesmo órgão, surge a mudança, e é isso que torna este órgão tão único.
Guilherme: Nós estamos a passar por uma fase de grande transição aqui na Faculdade, há uma grande renovação das regências e sente-se que os Professores que vêm dessa Escola mais antiga têm uma forma de estar um pouco diferente daqueles mais novos.
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Isso quer dizer que já não se sente tanto o peso da hierarquia?
Catarina: Na nossa Escola, julgo que ainda pesa um pouco. Tivemos o privilégio de ter contactado com as reformas do Ensino que agora estão a ser desenhadas (no caso do Ensino pré-clínico) e finalizadas (no caso do Ensino Clínico), e sentimos que o peso da Escola antiga se reflete consideravelmente quando são precisas mudanças estruturais. Seria muito positivo para a Escola e para a nossa formação olhar-se para estas oportunidades de mudança de forma mais vanguardista, sem receio de abraçar a verdadeira inovação em Educação Médica e na nossa Faculdade.
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Olhando para vocês há aqui um grupo que está a sair e o Francisco a representar os que acabam de chegar. Porque é que se aceitam estes lugares? Qual é a vossa causa?
Francisco: Acima de tudo, é com responsabilidade que procuramos que a nossa Escola seja a melhor Faculdade de Medicina possível, e desejamos sempre o melhor para todos os envolvidos, não só para discentes, mas para toda a comunidade académica. Portanto, se verificamos que há algo com potencial para melhorar na FMUL, especialmente no Ensino, é isso que nos move. Existem sempre aspetos que podem evoluir e melhorar. E, se existe um Órgão onde essas mudanças podem ser feitas, ao invés das ideais permanecerem em discussão no corredor, temos assim o privilégio de as levar ao local onde são tomadas as decisões.
Catarina: Concordo plenamente. Ao ouvir o Francisco, recordo uma frase de Einstein que a mim pessoalmente me diz muito: "Temos de fazer o melhor que podemos, essa é a nossa sagrada responsabilidade humana". Se sentimos que podemos fazer a diferença num sítio, num órgão, num projeto, então é nossa responsabilidade fazê-lo. E penso que o que nos une é precisamente sentirmos que podemos fazer a diferença pela nossa Faculdade e deixar a nossa marca, foi isso que nos fez construir a nossa equipa o mandato passado e acredito que foi o que fez construir a equipa atual.
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Como é que vocês tocam os vossos colegas? Como é que os ouvem e a seguir lhes comunicam algo?
Catarina: Estando, por exemplo, atentos ao que se passa em nosso redor, ao que temos conhecimento via e-mail e ao que chega até nós através das comissões de curso dos vários anos. As comissões de curso são excelentes aliados, já que têm o conhecimento mais de perto daquilo que são os problemas do próprio ano. E neste mandato, eles foram cruciais inclusivamente na discussão e procura de soluções para temáticas sensíveis e fraturantes como os Inquéritos de Avaliação do Ensino. Surgiu de uma reunião com as Comissões de Curso a sugestão dos alunos, no caso de preencherem os inquéritos, terem prioridade na escolha de horários. Foi proposta em Conselho Pedagógico, numa altura em que se discutia a possibilidade da obrigatoriedade para ultrapassar o problema da baixa taxa de respostas, e foi aceite, vigorando atualmente. Para além disso, mantemos um contacto próximo com a AEFML e os Discentes do Conselho de Escola, que consideramos muito importante.
João: O momento da campanha eleitoral também é muito importante, é quando damos a conhecer o CP, em que mostramos aquilo que conseguimos fazer enquanto Discentes e em que somos desafiados pelos nossos colegas que nos apontam os problemas. Inclusivamente, criámos um momento e um espaço onde os alunos indicam as problemáticas mais importantes que consideram ver resolvidas. Desafiam-nos e nós tentamos sempre adaptar-nos e tomar atenção a esses problemas ao longo do mandato.
Mas esse é um momento muito pontual, há outras formas de manter essa comunicação com os estudantes ao longo do tempo?
Catarina: Há a nossa plataforma CP for students, através da qual, via e-mail, fazemos divulgação de vários conteúdos que julgamos pertinentes, procurando manter-nos próximos dos colegas, e ainda a nossa página do facebook. Mas temos noção que os colegas têm um contacto mais faseado connosco, em comparação com a Associação de Estudantes, por exemplo, que tem um conjunto de projetos muito mais abrangente, enquanto no nosso caso o foco é o ensino na nossa Escola, é essa a nossa esfera de ação.
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Falando em esfera de ação sentiram alguma vez que enquanto representantes dos Discentes já não havia mais como defender uma ideia, tendo que desistir dela?
Catarina: Sinto que isso nunca aconteceu. Já deixámos ideias em stand by porque percebemos que não era a melhor altura para as trazer, mas nunca desistimos de ideias que acreditássemos que eram uma mais-valia para o ensino médico e para nossa Escola. Até porque temos consciência de que na maioria das vezes é uma questão de tempo até que seja possível trazê-las ao de cima. Nós próprios já ajudámos a trazer ao de cima ideias nascidas por discentes do CP há 5 ou 6 anos, e que só ganharam forma muito tempo depois. Por isso vale sempre a pena investir nas ideias em que acreditamos, se não for no nosso mandato que vão para a frente, é no próximo ou no seguinte, e faz toda a diferença quando já há trabalho feito da parte dos Discentes e a semente já está plantada.
Guilherme: Aprendemos a gerir aquilo que é o nosso esforço. Há batalhas que percebemos que não as vamos conseguir em tempo útil e que não é o tempo certo. Por isso concentramos os esforços noutros pontos que estão mais ao nosso alcance e que também são importantes e abdicamos da fase de uma luta que, apesar de significativa, às vezes tem de ser gerida.
Joana: Mas às vezes é complicado gerir. Porque nós pensamos muito a um ano e na verdade um ano não é tempo nenhum. Um ano passa muito rápido. E quando encontramos resistência não é mau, porque quando olhamos para trás percebemos que não era a melhor altura. Mas sim, isso custa um pouco. Percebemos que se não adiássemos alguns projetos íamos criar anticorpos da nossa relação que é claramente atípica, porque estamos em igual número de estudantes com Professores, ambos a trabalhar para um objetivo comum. E é lógico que as visões e as prioridades nem sempre sejam comuns. Por isso há que ter a capacidade de encaixe, que também existe do outro lado. Guardamos numa "caixinha" por um ano e talvez num momento diferente se possa abrir essa mesma "caixinha" e assim a ideia já resultar. Isto já aconteceu!
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Francisco, como é que é feita esta mudança de pasta? A Catarina agarra num documento e entrega nas mãos do Francisco e pede-lhe que ele dê o seu melhor para cumprir todas as ideias que ficaram a meio? Claro que não será só isto...
Francisco: Um dado facilitador é habitualmente termos uma só lista candidata, o que permite uma continuidade entre elementos. Assim, parte dos membros já integraram grupos de trabalho no passado, estando a par do trabalho que tem sido desenvolvido. Há ainda no fim de todos os mandatos uma reflexão do que foi feito, um documento oficial e que já foi enviado a todos os alunos, o Balanço de Mandato. Por outro lado, são feitas reuniões entre os discentes de cada grupo de trabalho, entre os que que saem e os que estão a chegar, para que se transmitam as principais informações e as prioridades a assumir a curto e longo prazo.
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A expetativa para quem começa é elevadíssima?
Francisco: É! E aqui tenho de acrescentar que, do mandato anterior, os Discentes Efetivos deixaram uma plataforma excelente de trabalho com os Docentes. Posso também dizer que já tivemos a nossa primeira reunião do CP e o clima de trabalho é excelente, e isso é algo que deixa toda a equipa muito feliz. Com este horizonte, as possibilidades são amplas e acredito que vamos conseguir muito em conjunto.
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E para quem deixa? O que é que se sente? Fica parte nossa num projeto que se deixa?
Catarina: É uma resposta muito pessoal, porque cada um de nós tem tempos diferentes de projeto e o seu próprio ponto de vista. Mas sinto nostalgia e alguma estranheza, porque foram 3 mandatos, portanto 3 anos, e ainda nem há 5 anos estou na Faculdade. Eu e a Joana estamos no 5º ano e entrámos no CP no nosso 2ºano. E portanto o CP fez parte da nossa rotina e da nossa vida na Faculdade durante muito tempo e reflete-se na nossa maneira de ver a Escola. (Ri) E agora até a caixa de e-mail vai reduzir drasticamente... (Ri) Mas termino com um sentimento de enorme felicidade e gratidão por ter tido esta oportunidade de crescimento tão grande, académico e pessoal, com a sensação de missão cumprida e com a certeza de que se segue uma equipa também com um grande sentido de compromisso, responsabilidade e empenho, e que vai fazer um trabalho excecional.
João: Eu sinto que é um sentimento de dever cumprido. Quando entrei no CP sentia-me muito "pequenino" para defender bandeiras muito fortes e aos poucos fomos conseguindo. Isso deixa-nos muito felizes. O CP acaba por ser uma escola de gestão de expectativas e prioridades, eu não tinha esta capacidade de gestão e ela servirá para a vida. No futuro, iremos trabalhar todos em equipa, seja nas enfermarias, ou até fora do Hospital e da Medicina, por isso essa capacidade torna-nos mais fortes.
Joana: Subscrevo totalmente! É mesmo uma escola, os Discentes são uma Escola! Sinto que, mais do que mudar o mundo, é mudar o nosso mundo. Viemos dar um pouco de nós e por isso agora é estranho sair, parece que ficamos incompletas, mas teremos outros desafios pela frente. Demos um bocadinho, mas o que recebemos foi muito maior. Aprendemos a lidar com pessoas diferentes, de graus diferentes, temos de saber comunicar desde o estudante que acaba de entrar, até ao Professor Doutor que é regente de uma cadeira e que todos "receiam". Temos de saber ser plásticos e isso é uma capacidade muito útil. Isto vem ao encontro da ideia do João, a Joana que entrou no CP é completamente diferente da Joana que agora sai.
Guilherme: Todos ganhámos e desenvolvemos muitas capacidades pessoais. Conseguir expressar e defender uma ideia nossa, quando se está a falar com um Professor que está acima de nós e tentar lutar pelo que se acredita, não faltando ao respeito, é uma aprendizagem. E perceber a dinâmica interna da Faculdade dá-nos uma sensibilidade maior para perceber o que se passa nos bastidores. Saio com a sensação que é a altura certa de passar o testemunho. Foi gratificante, mas desgastante porque temos que nos manter sempre muito motivados e não podemos baixar os braços quando as coisas não correm como tínhamos idealizado. Além disso, é importante haver uma renovação de ideias, porque o mesmo grupo fica viciado com a mesma maneira de pensar e ficamos até conservadores em relação a ideias novas. É bom entrar alguém novo que possa questionar uma visão já moldada.
Liliana: Aquilo que aprendemos neste caminho é a estar do lado do informador, e com isso aprende-se também a distinguir o papel do informador e do informado. São papéis diferentes. Estar do lado do informador é estar nas roldanas que fazem as coisas mexer aos poucos, é também partilhar muitas frustrações entre nós e com colegas exteriores. Também aprendemos que é difícil mexer em "pedras" muito pesadas (que ainda existem na nossa Escola), mas fomos uma equipa muito unida, tivemos uma capacidade enorme de ouvir e de aprender. Nesta altura sair sabe bem, apesar da nostalgia. Sentimos uma energia diferente de quem acaba de chegar e isso é positivo. A equipa que chega é igualmente dedicada, mas totalmente diferente da nossa e isso é ótimo porque traz crenças diferentes. A mim sabe-me particularmente bem sair e ver que deixámos o Código de Honra institucionalizado e ver o Progress Testing instituído.
Guilherme: Deixem-me acrescentar que, no nosso mandato, tivemos ganhos que já vinham detrás, mas que só ganharam expressão agora. A aprovação do novo Regulamento do Tronco Optativo da Faculdade foi um processo iniciado em 2011. Ao mesmo tempo, lançámos a primeira pedra para a Reforma dos anos pré-clínicos. E daqui a uns anos, estará um outro grupo de discentes em funções quando essa reforma for implementada.
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Alguma vez representaram uma ideia coletiva quando pessoalmente não era essa a vossa convicção?
Liliana: Penso que é importante referir que o consenso surge habitualmente de forma natural entre nós. O que pergunta aconteceu apenas uma vez comigo e com a Joana. Apesar do voto em bloco contra, a nossa opinião levava-nos a querer votar na abstenção. Mas a verdade é que o resultado final não ia ser influenciado pelo nosso voto e essa foi, de facto, uma reunião um pouco fraturante e logo uma das primeiras. Tive um dilema pessoal e interpessoal, que foi difícil de ultrapassar, mas depois de discussão em equipa decidimos votar homogeneamente. E porque é que o fizemos? Em primeiro lugar, porque a nossa abstenção seria um voto pessoal e não coletivo, depois esse voto não teria influência na matéria final: mesmo que votássemos todos contra e os Professores a favor, o Presidente desempataria a favor deles. Para além disso, historicamente desconhecíamos algo como “voto pessoal” dentro Discentes do CP em sede de reunião, talvez porque em todas as situações pelas quais tínhamos passado até agora, o curso natural era existir uma opinião concordante entre nós. E neste dia ficámos desarmados. Foi a partir daqui que começámos a refletir que não deveríamos votar sempre em uníssono, porque em algumas situações, quando não é tão importante ter uma posição tão coesa, poderá fazer sentido uma votação heterogénea. Neste mandato isso aconteceu, na última reunião tivemos uma votação heterogénea e da qual o Professor Joaquim Ferreira ficou muito orgulhoso. E eu confesso que também, porque se nas discussões major para a Escola é importante a votação firme e em uníssono (que, mais uma vez, surge quase sempre naturalmente), na afinação de pormenores se calhar faz mais sentido dar azo à nossa opinião pessoal, uma vez que enriquece a discussão e pode, inclusivamente, refletir melhor a opinião global dos colegas que representamos.
Joana: Do que sabemos foi a primeira vez que não se votou em bloco numa opinião.
Aquilo que fez este grupo de Discentes votar de forma diferenciada e questionar pela primeira vez a heterogeneidade de voto foi a questão do preenchimento dos inquéritos de avaliação. Sentiram que cumpriram o seu papel pois votaram com opiniões diferentes tal como são diferentes as opiniões dos alunos no que toca a esta matéria em especial.
Provavelmente o Professor sentiu pela primeira vez no seu primeiro grupo de Discentes do Pedagógico aquilo que batalhou o tempo todo, que não fossem sempre a voz em uníssono, mesmo que pensassem no coletivo. E conseguiu!
Pela frente o Professor Joaquim Ferreira cumpre mais 2 anos de mandato, completando os 3 anos habituais; o próximo mandato do Presidente do CP será já de 4 anos.
Para o Francisco e o novo grupo de Discentes o caminho começa agora e eles prometem não dar tréguas ao que ficou por fazer.
Peço-lhes para tirar uma fotografia de grupo, o Francisco diz que acha melhor não tirar destaque à equipa que está de saída, discordo, enquanto equipa pertencem todos ao mesmo lugar, uns com mais herança já dada, outros vão agora começar a escrevê-la, mas todos com o mesmo fundamento. Deixamos todos a sala. Pedem para voltar à Direção e aos Conselhos onde sempre se reuniram. Arrumam-se na grande sala de reuniões e espreitam discretamente ao espelho, ajeitam camisas e o cabelo. O sorriso nunca o perderam desde o primeiro minuto que entraram na sala para a nossa conversa.
Arrumam-se e rasgam o sorriso, mas são naturais. Tiramos as fotografias.
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Despedimo-nos na esperança de nos podermos rever. Porque falar com grupos assim dá-nos um sinal que haverá sempre gente com vontade. Vontade de mudar, em nome de todos.
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Joana Sousa
Equipa Editorial