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Professor Pekka Puska recebeu Doutoramento Honoris Causa pela Universidade de Lisboa
No dia 25 de março, decorreu na Faculdade de Medicina a Conferência Health Story of North Karelia and Finland – Implications for Global Cardiovascular Disease Prevention and Policy, proferida pelo Professor Pekka Puska. Médico finlandês, docente e político, ocupou o cargo de Diretor Geral do Instituto Nacional de Saúde e Bem-Estar (THL) na Finlândia, entre 2009 e 2013.
Foi Diretor e investigador principal do Projeto Carélia do Norte, lançado em 1972, na Finlândia. Este projeto teve como objetivo instituir uma série de medidas que visavam diminuir a alta taxa de mortalidade resultante de doenças cardiovasculares na população ativa. Durante o mandato de 25 anos do Professor Pekka Puska, a mortalidade prematura por doenças cardíacas na população em idade ativa na Finlândia diminuiu em 80%.
Na sua recente passagem por Lisboa, explicou como o projeto foi pensado, apoiado e os seus resultados.
Alimentos como a manteiga, o leite, as salsichas e o sal estavam na base das preferências da Finlândia nos anos 70 do século XX. A taxa de tabagismo era elevada o que fazia com que este país tivesse uma das taxas mais altas de incidência de mortes por doenças cardíacas do mundo. O índice na Carélia do Norte era 40% mais alto do que no resto do país. O Professor Pekka Puska iniciou este projeto como investigador principal e deu continuidade ao mesmo quando, mais tarde, assumiu o cargo de Diretor Geral do Instituto Nacional de Saúde Pública finlandês.
A Carélia do Norte, onde viviam menos de 200 mil pessoas, registava anualmente uma elevada taxa de doenças cardiovasculares, metade das vítimas eram homens com menos de 65 anos, e quase 40% dos casos eram fatais. Na época, era uma região relativamente pobre, em que a população vivia da agricultura e da agropecuária, sendo o leite e outros produtos derivados a base da alimentação. Os vegetais e leguminosas não faziam parte dos hábitos alimentares desta população.
A implementação do projeto passou por mobilizar políticos, professores, profissionais de saúde, grupos comunitários, empresários e os meios de comunicação para a necessidade de alteração dos hábitos alimentares, através de ações firmes. Para o efeito foram Implementadas uma série de ações coordenadas que conduziram à promoção da saúde, do rendimento e criação de políticas sociais, permitindo uma maior equidade. Comunidade, indústria e profissionais de saúde todos contribuíram para o Projeto.
No entanto, a adoção de novas medidas de promoção de saúde exigiram não só a identificação de obstáculos, existentes nos vários sectores como também, consequentemente, uma série de propostas para os ultrapassar. A estratégia definida teve como principal objetivo convencer a população que deveria consumir menos produtos lácteos e gorduras, e apostar mais no consumo de legumes e frutas. Passaram-se mensagens positivas, apelando principalmente à substituição de alimentos e à redução de sal. Incentivou-se a utilização de margarida vegetal em vez da manteiga e substitui-se o leite gordo pelo leite magro.
Em 1977, o projeto piloto da Carélia do Norte ampliou-se a todo o país. Numa maior escala e com o apoio do governo – Ministério da Agricultura e do Comércio - o grupo de trabalho promoveu alterações significativas nas práticas agrícolas, apostando na produção de frutos silvestres (um dos recursos possíveis, tendo em conta a fauna e flora dos bosques finlandeses).
Porém, como o próprio afirmou na conferência, sentiram-se algumas dificuldades de implementação, nomeadamente, a indústria de lacticínios que resistiu com veemência pois considerava que as iniciativas contrariavam os seus interesses.
Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), a taxa de mortalidade por doenças cardíacas na população masculina entre os 30 a 64 anos caiu 73% na Carélia do Norte e 65% na Finlândia de 1970 a 1995. O estilo de vida dos finlandeses tornou-se uma referência mundial. Neste âmbito estabeleceram-se as primeiras colaborações com Portugal sob a égide da Organização Mundial de Saúde, continuadas mais tarde com o programa CINDI, a rede de Institutos Nacionais de Saúde Pública e outras iniciativas.
No Dia 26, o Professor Pekka Puska recebeu, por parte do Reitor da Universidade de Lisboa António Cruz Serra o Grau de Doutor Honoris Causa. Esta distinção ficou a dever-se aos seus contributos científicos na evolução das Doenças Não Comunicáveis, que tiveram impacto não só na Finlândia, mas também por toda a Europa. No que diz respeito à realidade nacional, é importante referir que o Prof. Pekka Puska consistiu numa grande fonte de inspiração para muitos dos nossos investigadores, tendo sido um forte aliado do Prof. Fernando Pádua, no que diz respeito à implementação do Programa CINDI (Countrywide Integrated Noncommunicable Diseases) em Portugal.
A Cerimónia decorreu na Aula Magna e iniciou com o habitual Cortejo Académico. Seguiu-se a intervenção do Padrinho, o Professor José Pereira Miguel, que apresentou o Laureado. Enalteceu a sua simplicidade, humor e perseverança e a sua grande importância na área da medicina preventiva e saúde pública, referência internacional na promoção da saúde não apenas na Finlândia mas em toda a Europa. Referiu, como não poderia deixar de ser, o Programa Carélia do Norte que revolucionou o panorama finlandês e foi marco europeu.
Ressalvou ainda, o êxito do seu trabalho e a articulação com Médicos nacionais como o Professor Fernando de Pádua, também ele médico de renome na área da Cardiologia.
No seu discurso, o Professor Pekka Puska, falou do trabalho que desenvolveu ao longo das últimas décadas e as posições que teve na área da saúde na Europa. Mencionou uma vez mais as dificuldades em implementar medidas de grande impacto, mas afirmou que a estratégia parte da colaboração e integração da comunidade, sendo esta a única forma de alcançar resultados.
Parabéns ao Professor Pekka Pusca e ao trabalho desenvolvido na promoção da saúde pública.
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Ana Raquel Moreira
Equipa Editorial
Foi Diretor e investigador principal do Projeto Carélia do Norte, lançado em 1972, na Finlândia. Este projeto teve como objetivo instituir uma série de medidas que visavam diminuir a alta taxa de mortalidade resultante de doenças cardiovasculares na população ativa. Durante o mandato de 25 anos do Professor Pekka Puska, a mortalidade prematura por doenças cardíacas na população em idade ativa na Finlândia diminuiu em 80%.
Na sua recente passagem por Lisboa, explicou como o projeto foi pensado, apoiado e os seus resultados.
Alimentos como a manteiga, o leite, as salsichas e o sal estavam na base das preferências da Finlândia nos anos 70 do século XX. A taxa de tabagismo era elevada o que fazia com que este país tivesse uma das taxas mais altas de incidência de mortes por doenças cardíacas do mundo. O índice na Carélia do Norte era 40% mais alto do que no resto do país. O Professor Pekka Puska iniciou este projeto como investigador principal e deu continuidade ao mesmo quando, mais tarde, assumiu o cargo de Diretor Geral do Instituto Nacional de Saúde Pública finlandês.
A Carélia do Norte, onde viviam menos de 200 mil pessoas, registava anualmente uma elevada taxa de doenças cardiovasculares, metade das vítimas eram homens com menos de 65 anos, e quase 40% dos casos eram fatais. Na época, era uma região relativamente pobre, em que a população vivia da agricultura e da agropecuária, sendo o leite e outros produtos derivados a base da alimentação. Os vegetais e leguminosas não faziam parte dos hábitos alimentares desta população.
A implementação do projeto passou por mobilizar políticos, professores, profissionais de saúde, grupos comunitários, empresários e os meios de comunicação para a necessidade de alteração dos hábitos alimentares, através de ações firmes. Para o efeito foram Implementadas uma série de ações coordenadas que conduziram à promoção da saúde, do rendimento e criação de políticas sociais, permitindo uma maior equidade. Comunidade, indústria e profissionais de saúde todos contribuíram para o Projeto.
No entanto, a adoção de novas medidas de promoção de saúde exigiram não só a identificação de obstáculos, existentes nos vários sectores como também, consequentemente, uma série de propostas para os ultrapassar. A estratégia definida teve como principal objetivo convencer a população que deveria consumir menos produtos lácteos e gorduras, e apostar mais no consumo de legumes e frutas. Passaram-se mensagens positivas, apelando principalmente à substituição de alimentos e à redução de sal. Incentivou-se a utilização de margarida vegetal em vez da manteiga e substitui-se o leite gordo pelo leite magro.
Em 1977, o projeto piloto da Carélia do Norte ampliou-se a todo o país. Numa maior escala e com o apoio do governo – Ministério da Agricultura e do Comércio - o grupo de trabalho promoveu alterações significativas nas práticas agrícolas, apostando na produção de frutos silvestres (um dos recursos possíveis, tendo em conta a fauna e flora dos bosques finlandeses).
Porém, como o próprio afirmou na conferência, sentiram-se algumas dificuldades de implementação, nomeadamente, a indústria de lacticínios que resistiu com veemência pois considerava que as iniciativas contrariavam os seus interesses.
Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), a taxa de mortalidade por doenças cardíacas na população masculina entre os 30 a 64 anos caiu 73% na Carélia do Norte e 65% na Finlândia de 1970 a 1995. O estilo de vida dos finlandeses tornou-se uma referência mundial. Neste âmbito estabeleceram-se as primeiras colaborações com Portugal sob a égide da Organização Mundial de Saúde, continuadas mais tarde com o programa CINDI, a rede de Institutos Nacionais de Saúde Pública e outras iniciativas.
No Dia 26, o Professor Pekka Puska recebeu, por parte do Reitor da Universidade de Lisboa António Cruz Serra o Grau de Doutor Honoris Causa. Esta distinção ficou a dever-se aos seus contributos científicos na evolução das Doenças Não Comunicáveis, que tiveram impacto não só na Finlândia, mas também por toda a Europa. No que diz respeito à realidade nacional, é importante referir que o Prof. Pekka Puska consistiu numa grande fonte de inspiração para muitos dos nossos investigadores, tendo sido um forte aliado do Prof. Fernando Pádua, no que diz respeito à implementação do Programa CINDI (Countrywide Integrated Noncommunicable Diseases) em Portugal.
A Cerimónia decorreu na Aula Magna e iniciou com o habitual Cortejo Académico. Seguiu-se a intervenção do Padrinho, o Professor José Pereira Miguel, que apresentou o Laureado. Enalteceu a sua simplicidade, humor e perseverança e a sua grande importância na área da medicina preventiva e saúde pública, referência internacional na promoção da saúde não apenas na Finlândia mas em toda a Europa. Referiu, como não poderia deixar de ser, o Programa Carélia do Norte que revolucionou o panorama finlandês e foi marco europeu.
Ressalvou ainda, o êxito do seu trabalho e a articulação com Médicos nacionais como o Professor Fernando de Pádua, também ele médico de renome na área da Cardiologia.
No seu discurso, o Professor Pekka Puska, falou do trabalho que desenvolveu ao longo das últimas décadas e as posições que teve na área da saúde na Europa. Mencionou uma vez mais as dificuldades em implementar medidas de grande impacto, mas afirmou que a estratégia parte da colaboração e integração da comunidade, sendo esta a única forma de alcançar resultados.
Parabéns ao Professor Pekka Pusca e ao trabalho desenvolvido na promoção da saúde pública.
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Ana Raquel Moreira
Equipa Editorial