Momentos
Os Projetos de Natal da Associação de Estudantes
Juntámo-nos com a Matilde Boavida, a Catarina Schönenberger Braz e o João da Luz para saber que iniciativas prepara a AEFML para a época do Natal.
Projetos já enraizados nas tradições dos estudantes passam os anos e mudam-se intervenientes, mas é o espírito de continuidade e missão com os outros que perdura, ainda mais sendo Natal.
Matilde Boavida faz parte da Equipa de Saúde Pública e Sexual da AEFML que está a organizar este ano, em colaboração com a Comunidade Vida e Paz, a 30ª Festa de Natal com as Pessoas em Situação de Sem-Abrigo.
Este é um evento anual, que decorre em dezembro e em que as pessoas em situação de sem-abrigo têm a possibilidade, durante três dias, de receber refeições quentes, roupa, produtos de higiene, bem como receber apoio psicológico e médico, sendo um momento de convívio e de partilha entre todos.
Os alunos da Faculdade de Medicina ajudam na dinamização do Espaço Saúde. Neste espaço são dadas consultas, por médicos e realizam-se dois tipos de rastreio feitos por alunos da FMUL: um cardiovascular e outro à tuberculose. O rastreio cardiovascular envolve a medição da tensão arterial, da glicémia capilar, e do índice de massa corporal. Para além dos rastreiros há uma campanha de sensibilização para o risco do tabagismo e do alcoolismo, fazendo-se a ponte com a consulta. O rastreiro da tuberculose faz-se através do acompanhamento a uma unidade móvel de rastreio e, sendo necessário, faz-se o devido encaminhamento.
Segundo a Matilde, é muito importante para os alunos de Medicina terem este contacto com a população sem-abrigo pois, por vezes, “é um contacto que só acontece em situações de voluntariado”. Anualmente, são recebidas cerca de 100 pessoas, que vão ao encontro dos alunos e se mostram bastante recetivos à Campanha. Este ano decorre nos dias 21, 22 e 23 de dezembro, na Cantina Velha da Universidade de Lisboa. O grupo de alunos divide-se em dois turnos por dia, cada um deles com 6 elementos.
“O sentimento que perdura, no final destes três dias, é que a ideia inicial que se tem sobre estas pessoas muda. Ao ouvir estas histórias percebe-se que grande parte delas não estavam à margem da sociedade até lhes acontecer algum azar na vida que os levou à situação em que estão. Há também um grande número de imigrantes entre essa população. Conhecer esta realidade de perto é, assim, a maior mais-valia desta experiência.” Revela-nos a Matilde.
O Projeto Um Natal Diferente é também da AEFML e já acontece há mais de 20 anos. Há dois anos foi feita uma parceria com a Associação de Estudantes da Faculdade de Ciências Médicas, o que permitiu alargar o número de hospitais visitados.
Tem como missão, durante a manhã do dia 24 de dezembro, oferecer companhia e um momento de convívio e animação aos doentes internados nos hospitais. Doentes estes que estão impedidos de passar a quadra natalícia nos seus lares, na companhia da sua família e amigos, para quem a entrega de um presente simbólico, de palavra amiga ou mesmo de um pouco de música e animação é uma forma de receber o verdadeiro espírito natalício. São cerca de 18 os hospitais visitados este ano, distribuídos pela zona da Grande Lisboa, Setúbal, Madeira, Santarém e Vila Franca de Xira.
As inscrições são abertas aos alunos e a acompanhantes que queiram também participar. Como há alunos de muitas zonas do país um objetivo, a longo prazo, seria alargar esta iniciativa a nível nacional. Este ano também estiveram abertas inscrições aos alunos da Escola de Enfermagem de Lisboa (ESEL), que manifestaram um grande interesse em colaborar neste projeto.
“É muito gratificante ver, quer da parte dos voluntários, como da parte dos doentes o sorriso nos rostos, pois é um momento em que estão muito fragilizados, numa cama de um hospital e nesta época tão especial em que deveriam estar com as suas famílias, sentem algum conforto. O ano passado foram cerca de 700 as inscrições e assiste-se a um aumento ao longo dos anos.” Revela-nos João.
Porque é que se envolvem neste projeto?
Catarina: Porque é um projeto que apela à vertente humanitária e nós, sendo estudantes de medicina, e pessoas que nalgum dia estaremos deparados com a realidade de rotina hospitalar, é um privilégio participar num projeto assim. Deixamos de lado o distanciamento e conseguimo-nos aproximar do doente.
João: É muito bom haver a vertente humanitária na nossa profissão, e cada vez mais se tenta fomentar essa componente na nossa Faculdade, pois são cada vez mais os projetos nesse âmbito.
Catarina: Principalmente nesta época onde a solidariedade é tão visível. Ao invés de passarmos a manhã de dia 24 com a nossa família estaremos a fazer a diferença na vida de alguém nas primeiras horas dessa manhã.
Esta experiência muda a vossa perspetiva do Natal e de vida?
João: Diria que sim, pois deparamo-nos, naquele momento, com realidades que são muito diferentes da nossa. Mas, a verdade é que muitos dos doentes que estão no hospital nesta época são casos também sociais. Ao percebermos isto muda a nossa forma de ver esta época e faz-nos descer à terra e entender que o Natal não é só consumismo, deve sim ser entendido como uma época de ajuda, de solidariedade. Ter essa perspetiva ajuda-nos muito.
Catarina: Faz-nos, sobretudo, entender que estes gestos não devem acontecer apenas no Natal e sim durante todo o ano. Se calhar, temos que nos tornar mais humanos e mais atentos ao outro.
Já vos passou pela cabeça, nem que fosse por um segundo pensar, “eu não fui feita (o) para isto”? Sentem fibra necessária para aguentar a pressão, ou pensam diante da doença que é tantas vezes crua, “não sei se vou aguentar”?
João: Sim, já houve situações em que me tive que deparar com a realidade das coisas. Quando nos temos que defrontar com a situação em que “aquele doente está por um fio”, nem sempre é fácil. Mas acho que, por vezes, acaba por ter um efeito contrário. Pessoalmente, faz-me ver que quero mudar essa situação. É uma situação delicada mas eu quero mudar a perspetiva, quero poder dar um pouco mais de esperança. Não questiono se é esse o meu lugar, pelo contrário, afirmo que é aqui que eu quero estar.
Catarina: Penso também como o João, claro que há situações com as quais não estamos habituados a lidar, situações mais precárias em que estar ao lado de quem precisa me faz pensar que quero tentar reverter a situação e que um dia será diferente. Faz-me querer estudar mais sobre tudo e dá-me motivação para estudar todos os livros que temos que estudar e acreditar que um dia posso ser eu a fazer a diferença na vida de uma pessoa.
Matilde: A minha resposta é semelhante. Ao longo do curso somos, inevitavelmente, deparados com situações de precariedade por parte dos doentes. Ou porque não têm dinheiro para comprar um medicamento, ou porque não conseguem ter um cuidador específico para tratar da sua doença e que isso faz-nos pensar na nossa realidade, e colocarmos a hipótese de essa pessoa poder ser um familiar nosso, e aí eu sei que no futuro tentarei solucionar os problemas com os quais me vou deparando. Faz-me também pensar um pouco mais na minha realidade e na das outras pessoas.
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No dia 12 de dezembro o Projeto Natal Diferente fez um evento no Grande Auditório da Faculdade de Medicina, reunindo mais de 200 pessoas. As verbas angariadas reverteram a favor da Casa do Pombal – a Mãe, uma Instituição de Solidariedade Social, que iniciou a sua atividade em 2005 e acolhe crianças em risco, de idade inferior a 12 anos. É também uma forma de outros conseguirem participar e contribuir para este projeto.
Em vésperas de Natal quando muitos correm para ultimar os seus preparativos de uma festa passada em família, ou entre amigos, há outros tantos que se movem por trazer algum calor humano a quem está fora do seu contexto. Fazem-no porque essa é uma das grandes missões de um verdadeiro Natal.
Ao João, à Matilde e à Catarina e todos aqueles que desencadeiam estas iniciativas, desejamos um excelente Natal!
Ana Raquel Moreira
Joana Sousa
Equipa Editorial
Projetos já enraizados nas tradições dos estudantes passam os anos e mudam-se intervenientes, mas é o espírito de continuidade e missão com os outros que perdura, ainda mais sendo Natal.
30ª Festa de Natal com as Pessoas em Situação de Sem-Abrigo
Matilde Boavida faz parte da Equipa de Saúde Pública e Sexual da AEFML que está a organizar este ano, em colaboração com a Comunidade Vida e Paz, a 30ª Festa de Natal com as Pessoas em Situação de Sem-Abrigo.
Este é um evento anual, que decorre em dezembro e em que as pessoas em situação de sem-abrigo têm a possibilidade, durante três dias, de receber refeições quentes, roupa, produtos de higiene, bem como receber apoio psicológico e médico, sendo um momento de convívio e de partilha entre todos.
Os alunos da Faculdade de Medicina ajudam na dinamização do Espaço Saúde. Neste espaço são dadas consultas, por médicos e realizam-se dois tipos de rastreio feitos por alunos da FMUL: um cardiovascular e outro à tuberculose. O rastreio cardiovascular envolve a medição da tensão arterial, da glicémia capilar, e do índice de massa corporal. Para além dos rastreiros há uma campanha de sensibilização para o risco do tabagismo e do alcoolismo, fazendo-se a ponte com a consulta. O rastreiro da tuberculose faz-se através do acompanhamento a uma unidade móvel de rastreio e, sendo necessário, faz-se o devido encaminhamento.
Segundo a Matilde, é muito importante para os alunos de Medicina terem este contacto com a população sem-abrigo pois, por vezes, “é um contacto que só acontece em situações de voluntariado”. Anualmente, são recebidas cerca de 100 pessoas, que vão ao encontro dos alunos e se mostram bastante recetivos à Campanha. Este ano decorre nos dias 21, 22 e 23 de dezembro, na Cantina Velha da Universidade de Lisboa. O grupo de alunos divide-se em dois turnos por dia, cada um deles com 6 elementos.
“O sentimento que perdura, no final destes três dias, é que a ideia inicial que se tem sobre estas pessoas muda. Ao ouvir estas histórias percebe-se que grande parte delas não estavam à margem da sociedade até lhes acontecer algum azar na vida que os levou à situação em que estão. Há também um grande número de imigrantes entre essa população. Conhecer esta realidade de perto é, assim, a maior mais-valia desta experiência.” Revela-nos a Matilde.
Natal Diferente
O Projeto Um Natal Diferente é também da AEFML e já acontece há mais de 20 anos. Há dois anos foi feita uma parceria com a Associação de Estudantes da Faculdade de Ciências Médicas, o que permitiu alargar o número de hospitais visitados.
Tem como missão, durante a manhã do dia 24 de dezembro, oferecer companhia e um momento de convívio e animação aos doentes internados nos hospitais. Doentes estes que estão impedidos de passar a quadra natalícia nos seus lares, na companhia da sua família e amigos, para quem a entrega de um presente simbólico, de palavra amiga ou mesmo de um pouco de música e animação é uma forma de receber o verdadeiro espírito natalício. São cerca de 18 os hospitais visitados este ano, distribuídos pela zona da Grande Lisboa, Setúbal, Madeira, Santarém e Vila Franca de Xira.
As inscrições são abertas aos alunos e a acompanhantes que queiram também participar. Como há alunos de muitas zonas do país um objetivo, a longo prazo, seria alargar esta iniciativa a nível nacional. Este ano também estiveram abertas inscrições aos alunos da Escola de Enfermagem de Lisboa (ESEL), que manifestaram um grande interesse em colaborar neste projeto.
“É muito gratificante ver, quer da parte dos voluntários, como da parte dos doentes o sorriso nos rostos, pois é um momento em que estão muito fragilizados, numa cama de um hospital e nesta época tão especial em que deveriam estar com as suas famílias, sentem algum conforto. O ano passado foram cerca de 700 as inscrições e assiste-se a um aumento ao longo dos anos.” Revela-nos João.
Porque é que se envolvem neste projeto?
Catarina: Porque é um projeto que apela à vertente humanitária e nós, sendo estudantes de medicina, e pessoas que nalgum dia estaremos deparados com a realidade de rotina hospitalar, é um privilégio participar num projeto assim. Deixamos de lado o distanciamento e conseguimo-nos aproximar do doente.
João: É muito bom haver a vertente humanitária na nossa profissão, e cada vez mais se tenta fomentar essa componente na nossa Faculdade, pois são cada vez mais os projetos nesse âmbito.
Catarina: Principalmente nesta época onde a solidariedade é tão visível. Ao invés de passarmos a manhã de dia 24 com a nossa família estaremos a fazer a diferença na vida de alguém nas primeiras horas dessa manhã.
Esta experiência muda a vossa perspetiva do Natal e de vida?
João: Diria que sim, pois deparamo-nos, naquele momento, com realidades que são muito diferentes da nossa. Mas, a verdade é que muitos dos doentes que estão no hospital nesta época são casos também sociais. Ao percebermos isto muda a nossa forma de ver esta época e faz-nos descer à terra e entender que o Natal não é só consumismo, deve sim ser entendido como uma época de ajuda, de solidariedade. Ter essa perspetiva ajuda-nos muito.
Catarina: Faz-nos, sobretudo, entender que estes gestos não devem acontecer apenas no Natal e sim durante todo o ano. Se calhar, temos que nos tornar mais humanos e mais atentos ao outro.
Já vos passou pela cabeça, nem que fosse por um segundo pensar, “eu não fui feita (o) para isto”? Sentem fibra necessária para aguentar a pressão, ou pensam diante da doença que é tantas vezes crua, “não sei se vou aguentar”?
João: Sim, já houve situações em que me tive que deparar com a realidade das coisas. Quando nos temos que defrontar com a situação em que “aquele doente está por um fio”, nem sempre é fácil. Mas acho que, por vezes, acaba por ter um efeito contrário. Pessoalmente, faz-me ver que quero mudar essa situação. É uma situação delicada mas eu quero mudar a perspetiva, quero poder dar um pouco mais de esperança. Não questiono se é esse o meu lugar, pelo contrário, afirmo que é aqui que eu quero estar.
Catarina: Penso também como o João, claro que há situações com as quais não estamos habituados a lidar, situações mais precárias em que estar ao lado de quem precisa me faz pensar que quero tentar reverter a situação e que um dia será diferente. Faz-me querer estudar mais sobre tudo e dá-me motivação para estudar todos os livros que temos que estudar e acreditar que um dia posso ser eu a fazer a diferença na vida de uma pessoa.
Matilde: A minha resposta é semelhante. Ao longo do curso somos, inevitavelmente, deparados com situações de precariedade por parte dos doentes. Ou porque não têm dinheiro para comprar um medicamento, ou porque não conseguem ter um cuidador específico para tratar da sua doença e que isso faz-nos pensar na nossa realidade, e colocarmos a hipótese de essa pessoa poder ser um familiar nosso, e aí eu sei que no futuro tentarei solucionar os problemas com os quais me vou deparando. Faz-me também pensar um pouco mais na minha realidade e na das outras pessoas.
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No dia 12 de dezembro o Projeto Natal Diferente fez um evento no Grande Auditório da Faculdade de Medicina, reunindo mais de 200 pessoas. As verbas angariadas reverteram a favor da Casa do Pombal – a Mãe, uma Instituição de Solidariedade Social, que iniciou a sua atividade em 2005 e acolhe crianças em risco, de idade inferior a 12 anos. É também uma forma de outros conseguirem participar e contribuir para este projeto.
Em vésperas de Natal quando muitos correm para ultimar os seus preparativos de uma festa passada em família, ou entre amigos, há outros tantos que se movem por trazer algum calor humano a quem está fora do seu contexto. Fazem-no porque essa é uma das grandes missões de um verdadeiro Natal.
Ao João, à Matilde e à Catarina e todos aqueles que desencadeiam estas iniciativas, desejamos um excelente Natal!
Ana Raquel Moreira
Joana Sousa
Equipa Editorial