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Professores da FMUL brilham no Congresso Europeu de Neurologia
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Lisboa recebeu o 4th EAN Congress, o maior Congresso Europeu de Neurologia alguma vez realizado.
Composta no passado por duas sociedades, a European Neurology Society, com membros individuais, e a European Federation of Neurological Societies, uma Federação de Sociedades Nacionais, mantiveram-se separadas e a organizar dois congressos de Neurologia na Europa em simultâneo.
Mas foi José Ferro, antigo Presidente da European Neurology Society e atual Diretor da Clinica Universitária de Neurologia e Presidente do Conselho de Escola da Faculdade de Medicina, um dos responsáveis pela fusão destas duas sociedades europeias. Na altura, um dos seis elementos que compunha a comissão de transição conseguiu, harmoniosamente, juntar sociedades e fazer com que ficasse apenas uma. Nascia assim a European Academy of Neurology (EAN), a maior Sociedade Europeia de Neurologia.
Lisboa não ficou esquecida como a cidade anfitriã de tantas mentes brilhantes e foi por isso que o 4º congresso da EAN decorreu cá, no passado mês de junho entre os dias 16 e 19. Com a vantagem de ser uma cidade cosmopolita e cada vez com mais pontes aéreas que estreitam caminhos, o mérito deveu-se, no entanto, ao responsável do comité organizativo local, o Chairman Joaquim Ferreira, médico Neurologista, Diretor do Laboratório de Farmacologia Clínica e Presidente do Conselho Pedagógico da Faculdade de Medicina, que entendeu que para se promover a cidade e um leque de neurologistas muito bons, era preciso não temer o desafio.
“A situação é muito curiosa porque eu estava numa reunião em Santiago de Compostela e do outro lado da mesa estava o Professor Günther Deuschl, o então Presidente da Academia, e eu percebi que estavam a ter problemas em definir onde iria decorrer o congresso de 2018. Havia naquela fase alguns problemas entre países candidatos e que não estavam a chegar a acordo sobre as suas responsabilidades, então achei que estava ali uma janela de oportunidade para candidatar Lisboa. Enviei um mail para o outro lado da mesa e pedi que considerassem Lisboa como cidade candidata a receber esta organização. A Academia tinha de tomar decisões num curto prazo de tempo e passadas uma ou duas semanas vieram a Lisboa. Na altura o Professor Victor Oliveira era o Presidente da Sociedade Portuguesa de Neurologia e teve uma generosidade e disponibilidade enorme para apoiar esta candidatura. Os dois servimos de anfitriões e andámos a visitar os espaços na cidade capacitados para acolher o congresso, o que acabou mesmo por acontecer. Daqui tiramos imediatamente um ensinamento, só vencemos uma candidatura se concorrermos. Claro que não foi só esse fator que prevaleceu, teve também muito a ver com o crédito internacional da comunidade neurológica portuguesa. Se não houvesse um conjunto de neurologistas notáveis que, ao longo dos anos, granjearam credibilidade e foram reconhecidos como líderes ao mais alto nível das Neurociências em todo o Mundo, nada disto seria possível”.
Outra das vantagens foi dar ao país organizador a possibilidade de escolher a Neurogenética como o tema principal do congresso. Apesar de ter como área preferencial de interesse as doenças do movimento, incluindo a doença de Parkinson, Joaquim Ferreira elogia a escolha de um tema que homenageia a Escola da Neurologia portuguesa. “Há doenças neurológicas, em que se incluem a Doença de Machado Joseph e a Polineuropatia Amiloidótica Familiar (PAF) (Paramiloidose ou Doença dos Pezinhos) em que a comunidade neurológica nacional desempenhou um papel preponderante na sua descrição e investigação. Merece particular menção o Prof. Corino de Andrade responsável pelas descrições iniciais da PAF, tendo também contribuído para o estudo da epidemiologia, clínica e genética da Doença de Machado Joseph. Apesar de serem doenças diferentes, são ambas doenças progressivas de causa genética e que condicionam alterações da marcha. São ainda hoje doenças de investigação preferencial em centros clínicos de investigação nas Universidades de Lisboa, Coimbra, Porto e Minho”.
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Convidados pelo seu mérito científico, os professores portugueses, que estiveram presentes no EAN Congress, não foram escolhas ao acaso, como explicou Joaquim Ferreira. “Claro que sugeri alguns nomes, das várias Escolas Médicas, com base no seu mérito científico e reconhecimento internacional e não por razões geográficas. Naturalmente, decorrendo o Congresso em Lisboa, acabou por haver uma preponderância de palestrantes da Universidade de Lisboa e do serviço de Neurologia do HSM; a dar maior relevância foram os Professores José Ferro, Víctor Oliveira, Isabel Pavão Martins, Patrícia Canhão, Mamede de Carvalho, Miguel Coelho e Ana Verdelho. É o mesmo que lhe dizer que da nossa casa, aqueles que têm uma atividade científica mais profícua acabaram por ter um papel relevante. Um dos pontos fortes do Congresso foi a sessão de abertura em que o Prof. Alexandre Quintanilha fez uma conferência notável sobre as implicações éticas do progresso da genética.
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Um das outras sessões de destaque foram os highlights em que foi apresentada uma seleção do que de melhor e mais relevante foi apresentado ao longo do Congresso. Merece destaque a apresentação da Profª. Isabel Pavão Martins, da Profª. Patrícia Canhão e do Prof. Mamede de Carvalho. Decorreu também uma sessão, com a observação de doentes (Clinical Grand Rounds), coordenada pelo Prof. Ferro e que ocorreu pela primeira vez no Congresso de Lisboa. Esta sessão correu tão bem que vai ser repetida em congressos futuros".
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José Ferro foi falar sobre Demência Vascular, ou seja, o contributo da lesão vascular para a deterioração cognitiva nas pessoas de idade, organizou uma sessão pioneira com observação de doentes ao vivo e que foi muito bem-sucedida. Fomos ouvir o Professor e perceber o impacto desta inovadora apresentação.
“Estava com algum receio se ia correr bem, ou não, porque foi a primeira vez que se fez. Foram três doentes, um com a doença extrapiramidal, um com doença neuromuscular e outro com doença cerebrovascular. E comigo levei um interno português que pertence aqui ao serviço (Neurologia de Santa Maria). O esquema era apresentar um único diapositivo com o esquema fundamental da história do doente e depois havia um perito estrangeiro, já previamente escolhido, que ia fazendo perguntas ao doente e o observava. Tudo isto era projetado no ecrã e ele ia fazendo um exame ao vivo. À medida que isto acontecia ele ia pedindo exames: testes genéticos, ressonância, entre outros que o doente já levava. Chegava ao fim do exame e tinha de fazer o diagnóstico.”
A reação dos doentes à interação em público já era expectável, porque tinham sido escolhidos previamente e dado o devido consentimento, “todos estes doentes são crónicos, um era seguido por mim, outro pelo Dr. Miguel Coelho e outro seguido pelo Prof. Mamede Carvalho.” À pergunta sobre se a exposição pública de um quadro clínico pode intimidar o doente, estando diante de um auditório com cerca de mil pessoas, a resposta do Professor José Ferro foi clara, “Não, até pode resultar de forma oposta, o doente sente que lhe dão importância e que pode falar do problema e que é visto por outro médico, para lá do médico deles”.
A sessão revelou-se um sucesso, uma vez que os diagnósticos traçados correspondiam aos que já tinham sido falados pelos médicos de origem. Apenas de referir que esta sessão não apresentava soluções de terapêutica, de modo a não criar instabilidade para os doentes.
Nas palavras do Professor José Ferro, a sua mensagem essencial passou e que diz respeito “à invasão de exames complementares que se pedem, mas que se o doente for visto por um perito, as poucas perguntas e um exame neurológico chegam para se concluir de imediato o diagnóstico, precisando somente de dois ou três exames para confirmar o que se pensou”.
Este foi o ano em que se reuniram mais pessoas num só evento, cerca de 6700, no ano passado em Amesterdão não passaram dos 6000.
No balanço muito positivo feito pelo organizador do comité do congresso, Joaquim Ferreira, ressalta a “oportunidade que a jovem comunidade neurológica portuguesa teve de mostrar a sua qualidade, que nos torna pares ao mais alto nível, independentemente das fronteiras geográficas”.
O Congresso segue viagem em 2019 para Oslo, celebrando os 100 anos da Sociedade de Neurologia Norueguesa e onde volta a reunir as tantas mentes brilhantes que estudam as que já sofrem de algumas patologias.
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Estes foram os Professores de Neurologia que tão bem representaram a Faculdade:
Chairperson
Joaquim Ferreira
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Clinical Grand Rounds
Moderators: J. Ferro, M. Coelho
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J. Ferro
Vascular dementia
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J. Ferreira
Can people with PD drive?
Digital outcome assessment in Parkinson’s disease
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A. Verdelho
Neurogenetic avenues and new directions on risk factors in dementia?
To exercise prevention
Current treatment possibilities in dementia
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M. de Carvalho
Highlights Neuromuscular and neurophysiology
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P. Canhão
Highlights Stroke
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I. P Martins
Highlights Headache
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A. de Mendonça
Highlights Dementia and cognition
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M. Coelho
Highlights Movement disorders
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I. Conceição
Familial amyloid polyneuropathy: phenotype, genetics, treatment
Recent advances in therapy
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V. Oliveira
History of Neurology: lessons from Portuguese clinical neurosciences
From pioneers to interventional angiography
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Créditos das fotos: EAN Congress
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Joana Sousa
Equipa Editorial