Espaço Ciência
Biobanco - O Banco das amostras humanas
O Biobanco-iMM é o cofre das amostras biológicas, e que são desde saliva, sangue (soro e plasma e que é sempre a mais retirada), tumores, osso, ou fluídos biológicos (nomeadamente ligados a doenças reumáticas), retiradas com autorização dos doentes, ou familiares, e que pretende servir de apoio para estudos científicos de investigadores e médicos.
Divididas entre potes e arcas estimam-se que sejam já perto de 200 mil as amostras guardadas. Dos 17 mil dadores, 2 000 são controlos saudáveis e são as mulheres que estão representadas em maior número.
No top três das amostras mais procuradas do Biobanco, estão os dadores saudáveis, com as coleções de Neurologia e depois de Tumores em segundo e terceiro lugar, respetivamente.
Apesar de ocupar o lugar da liderança, as amostras saudáveis são as mais difíceis de obter, porque à medida que a idade avança é mais raro encontrar pessoas totalmente saudáveis, nas faixas dos 60 e 70 anos, mas são muito importantes para que investigadores possam comparar doenças, com casos saudáveis.
É uma pequena equipa que, todos os dias, dá forma às rotinas e procedimentos deste precioso Banco. Composto por cinco pessoas, três de staff e dois codiretores, a codireção é dividida entre Sérgio Dias e Joaquim Polido Pereira, precisamente porque juntam a Investigação à experiência clínica. Enquanto Sérgio Dias faz a ligação com os investigadores do iMM e promove as amostras do banco, Joaquim Polido Pereira, sendo médico Reumatologista em Santa Maria, mantém um canal aberto com vários médicos do mesmo hospital. É neste balanço que se permite alargar o vasto número de amostras, em tão curto espaço de tempo.
Susana Ferreira, formada em Bioquímica e com Mestrado em Biologia Humana e Ambiente, faz o processamento de amostras e a introdução de dados, está também responsável pela parte da cultura celular. Inicialmente trabalhava apenas no isolamento de células mononucleadas do sangue periférico (PBMCs) e que pertenciam, maioritariamente, à coleção de Hematologia. No entanto, e por necessidade de alguns investigadores, passou a poder fazer-se as culturas primárias de fibroblastos. Deste modo, e uma vez que já tinha experiência em cultura celular, o protocolo de implementação de culturas primárias de fibroblastos foi introduzido no Biobanco, permitindo a criação de um novo serviço de apoio à investigação.
Fabiana Rodrigues é a única habilitada para a colheita de sangue é quem traz à equipa o lado mais clínico. Responsável pela parte do DNA, faz a sua extração e posteriormente analisa a qualidade do mesmo. Está neste momento no seu segundo ano de Mestrado em Oncobiologia e tem como objetivo enriquecer a coleção de tumores do Banco, através da recolha de mais amostras de Santa Maria.
Quando um cientista quer iniciar uma coleção, o primeiro contacto que faz é com Ângela Afonso, apaixonada por Bioquímica, fez também Mestrado na mesma área. Depois de reunir com os investigadores, tenta perceber o interesse deles e que workflow se deve estabelecer para avançar. Um dos maiores cuidados que tem, desde o início, é o modo como se acondicionam as amostras, para que em momento algum se danifiquem e se perca a sua qualidade. Após esses pedidos feitos, gere a comunicação com a Comissão Científica que avaliará a pertinência da proposta para uma nova coleção ou pedido de amostras. A criação dessas coleções é geralmente proposta por uma equipa que pode incluir um médico e investigadores. Há ainda uma Comissão de Ética, feita pelo Hospital de Santa Maria e a quem têm de responder, quando querem aprovação para recolha das amostras.
Ângela está no Biobanco há sete anos, conhece todo o processo, de trás para a frente, no entanto, a restante equipa sabe fazer recolhas e fazer solicitações.
Os Biobancos são facilitadores de estudos de investigação, não tendo estruturas de investigação próprias. Com amostras, devidamente catalogadas, a sua informação é totalmente confidencial e anónima no que diz respeito aos seus dadores.
Funcionam com software próprio que localiza imediatamente nas arcas aquilo que se procura. Organizadas por gavetas, as amostras estão facilmente identificadas por diferentes cores (cada cor uma área terapêutica), codificadas no sistema informático, as caixas de amostras encontram-se como uma morada. Devidamente doseadas as amostras, consegue-se permitir que cada investigador fique com a sua parte, sem que tenha de voltar a repô-las no final.
As patologias são muito diferentes, Ângela explica que “a ideia é fornecer um conjunto de amostras em quantidade e qualidade suficiente, à qual exista associada uma informação clínica relevante para facilitar a realização dos estudos”.
Numa visita guiada, explica-nos os passos e as necessidades imediatas, “recolhemos sangue, em muitos casos 8ml aproximadamente, depois só precisamos de mais, mediante a especificidade do projeto. Mas para a coleção de controlos que nós temos, são sempre apenas estes dois pequenos tubos”.
Um dos tubos vai servir para extrair o DNA e outro para separar o soro, a parte líquida do sangue, “em vez de se colocar na arca frigorífica, que era como geralmente se fazia no passado, colocamos agora as amostras todas em aliquotas. Quando queremos conservar as amostras com maior estabilidade, mantemo-las conservadas a -80 e isto permite termos os ácidos nucleicos e proteínas em perfeito estado. Mas se quisermos armazenar células, aí que elas têm de ir para os contentores de Azoto Líquido, para fazer criopreservação, permanecendo então em azoto líquido. A criopreservação é a preservação a longo termo e que é o que permite ter as amostras durante muitos anos, pois a integridade da célula está sempre intacta”.
Criado no espaço físico do iMM, o Biobanco teve por base o apoio de várias farmacêuticas de grandes grupos multinacionais e com representação em Portugal. Foi devido a um contacto entre médicos e estas farmacêuticas que se avançou com o projeto, criando uma transversalidade em várias áreas e permitindo estudos genéticos, moleculares. Foi este apoio inicial que serviu para comprar os primeiros equipamentos: arcas, computadores, entre outros materiais. O codiretor Sérgio Dias diz-nos que “ainda assim o financiamento continua a ser maioritariamente do Estado, assumindo os ordenados, equipamentos, bem como as vistorias e auditorias, mas não é suficiente”.
Sendo o maior Biobanco do país, foi também o primeiro a surgir, como nos explica Sérgio Dias. “No país há várias estruturas de biobancos. Uma delas é a Rede Nacional de Banco de Tumores e que começou no Hospital de São João do Porto, criando grandes coleções de tumores. A Oncologia começou lá, essencialmente, mas nós temos uma grande representação cá também, mas não é maioritária. A parte Neurológica é muito importante porque temos uma grande coleção do Hospital de Santa Maria, do Professor Joaquim Ferreira (Diretor do Departamento), estão ligadas às questões do movimento e permitem desenvolver estudos sobre a doença de Parkinson, Alzheimer, Esclerose; é das coleções mais dinâmicas”.
Neste momento o Biobanco atingiu praticamente o limite de armazenamento das arcas.
“O objetivo de um banco destes não é atingir números recordes de amostras, mas dinamizar as coleções, é a sua rotatividade que é dinamizadora para que as coleções se renovem. Em última análise, deste processo de estudo, o que se pretende, é que o investigador possa tirar conclusões ou hipóteses do seu estudo e publicar o seu trabalho final”.
Para que se possam continuar a enriquecer as bases de dados com mais e novas amostras é preciso expandir o espaço e, a par da recolha urgente de mais amostras de casos saudáveis, ter novas e mais amplas instalações é a maior prioridade de Sérgio Dias. “É importante referir que sendo o Biobanco uma estrutura transversal ao CAML, ele foi sendo colocado no iMM por uma questão de facilidade, porque foi aqui que se identificou o espaço e as condições para se criar o banco, no entanto, ele é da Faculdade e do Hospital também. Mas nós precisamos de novas condições para poder continuar a crescer e perspetivar a sua sobrevivência a mais cinco anos para a frente”.
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Joana Sousa
Equipa Editorial