Investigação e Formação Avançada
Prémio GAPIC David Ferreira - Diogo Maia e Silva
Foi a sua tese final de curso, sobre a heterogeneidade intra-tumoral, que fez com que Diogo Maia e Silva, de 24 anos, ganhasse o Prémio Gapic David Ferreira 2017.
Aluno da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, entrou em 2011 e concluiu o curso seis anos depois. Desde agosto de 2017 que vive nos EUA a fazer um doutoramento em ciências biológicas na Watson School of Biological Sciences, Cold Spring Harbor Laboratory.
Pela frente esperam-lhe mais quatro anos e meio, onde vai prosseguir com a sua investigação.
“O cancro é um termo genérico que agrupa muitas doenças diferentes, cuja principal manifestação é o crescimento de um grupo de células anómalas que formam uma massa (tumor) e, muitas vezes, invadem outros órgãos. Os tumores formados pelas células cancerosas não são homogéneos: existe uma enorme variedade de características entre estas células. Por exemplo, uma subpopulação pode expressar níveis mais elevados de um gene que promove replicação celular, outra pode conter ainda uma mutação genética que as torna resistentes à ação de uma farmacologia específica. Nós estamos interessados em compreender como esta heterogeneidade determina a resistência a terapêuticas contra leucemia mieloide aguda, um cancro do sangue, e subsequentes recidivas.
Estudar este problema em doentes e muito difícil. Para contornar esta limitação, utilizamos linhas celulares (células tumorais obtidas de doentes) que podem ser facilmente manipuladas e mantidas em cultura no laboratório. Utilizando linhas celulares de leucemia mieloide aguda, estudamos a resposta a vários fármacos e descobrimos que o mecanismo de recidiva difere consoante as terapêuticas utilizada. Especificamente, os nossos resultados parecem indicar que diferentes terapias selecionam células tumorais recidivantes, responsáveis pelo recrescimento cancerígeno após um período inicial de remissão, de formas fundamentalmente diferentes. Enquanto alguns regimes quimioterapêuticos parecem selecionar células com "características" permanentes de resistência (por exemplo, uma mutação que perdura nas células-filhas), previsíveis mesmo antes do tratamento, outros agentes parecem falhar de forma menos determinística, sendo mais difícil antever as células que vão escapar ao tratamento e recidivar. Estes resultados, embora longe de alguma aplicação clinica concreta, elucidam aspetos fundamentais sobre a dinâmica da recidiva da leucemia em resposta a diversos tratamentos. Ao mesmo tempo, ao estudarmos diferentes agentes terapêuticos, verificamos que a combinação de dois regimes frequentemente utilizados, separadamente, no tratamento de doentes com leucemia mieloide aguda, pode prevenir a aquisição de resistência permanente das células malignas que sobrevivem à terapêutica, permitindo o tratamento eficaz de leucemia recidivante, até agora intratável. Este resultado, a confirmar-se noutros modelos, pode formar a base para testar esta combinação em doentes com leucemia. É importante notar que, embora as nossas observações sejam robustas em linhas celulares, e essencial a sua validação noutros modelos mais complexos, nomeadamente modelos animais.
Fico a pensar se, por haver essa heterogeneidade, não corremos o risco de ter “cancros personalizados” e sem tratamentos coletivos eficazes…
Está inteiramente correta. Não há dois tumores iguais, com exatamente a mesma composição e mutações genéticas. Por essa mesma razão, a resposta a fármacos é variável até para grupos de doentes aparentemente homogéneos. Para ultrapassar esta dificuldade, está a desenvolver-se um grande esforço da comunidade médica no sentido de uma "medicina personalizada", em que cada doente é tratado de acordo com informação específica do seu tumor, ao invés das clássicas quimioterapias genéricas.
Conhecemos o Diogo porque há um Dia da Investigação que promove os trabalhos dos seus melhores alunos. O Diogo em princípio ia ser médico, mas afinal vai ser investigador. Qual é a importância do GAPIC neste seu percurso?
Tenho um grande respeito e gratidão pelo grupo que trabalha para dar aos alunos da FML a oportunidade de ir para um laboratório, experienciar e, quem sabe, apaixonar-se pelo mundo da investigação científica. Como principal agente de fomento do espirito crítico de investigação científica e médica na faculdade, o GAPIC tem um papel fundamental no apoio a alunos e na articulação com laboratórios afiliados a FML. Os futuros médicos são, muitas vezes, curiosos, e importa estimular o seu espirito científico tanto ou mais que a aquisição massiva de conhecimento inerente ao percurso na faculdade.
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Joana Sousa
Equipa Editorial