A III Edição do Nutri2Go decorreu durante os dias 7 e 8, com várias iniciativas desde apresentações com médicos e nutricionistas convidados a falar sobre temas pertinentes que abracem estas duas áreas da saúde, bem como Keynotes e workshops em temas tão variados como “Hortas e compostagem”, “dietas restritivas versus reeducação alimentar”, “redes sociais e o seu impacto na alimentação,” ou “alimentação e saúde oral no ciclo de vida,” entre outras.
Foram dois dias repletos de “lectures” convidados e temas que interessam aos alunos dos cursos de Nutrição e de Medicina, da FMUL.
A plateia esteve quase sempre cheia de alunos, que quiseram estar presentes para ouvir novidades, inteirarem-se de como é a prática da profissão, quais os desafios e o dia a dia de um nutricionista, mas não só. Durante estes dias o foco esteve na forma como a alimentação tem vindo a adquirir um papel predominante na manutenção e prevenção da saúde e bem-estar da população. A alimentação é a base para uma vida saudável, mas também uma importante ferramenta para controlar diagnósticos e amenizar os efeitos de uma doença. Cada vez mais o nutricionista desenvolve um papel determinante para evitar sintomas e controlar o desenvolvimento de uma doença.
A Drª RafaelaTeixeira falou sobre “o impacto da nutrição na (in)fertilidade da mulher onde abordou exatamente essa questão. Doenças como a Síndrome do Ovário Poliquístico (SOP) e Endometriose podem ser controladas e os efeitos perversos diminuídos, através da alimentação.
Peguemos no exemplo da endometriose que se caracteriza pelo crescimento do tecido endometrial fora do útero e cujas condições inflamatórias dependem do estrogénio. Esta é uma doença que afeta entre 6 a 10 por cento do sexo feminino e pode afetar 50 por cento das mulheres inférteis. Estudos têm demonstrado que as mulheres diagnosticadas com endometriose revelam ter prevalência a intolerâncias alimentares, alergias e sintomas gastrointestinais. Vários estudos alertam para o facto de que há a prevalência de endometriose em mulheres com Síndrome do Intestino Irritável (SII). Neste grupo em específico, a dieta Low FODMAP revelou-se promissora na redução dos sintomas da endometriose em mulheres com ambos os diagnósticos.
Nutrição na endometriose
Rafaela Teixeira continuou a sua apresentação revelando ainda que estudos demonstram que uma alimentação equilibrada e anti-inflamatória pode reduzir o risco da endometriose. Isto porque uma dieta com estas características tem a capacidade de fortalecer o sistema imunitário, modular a inflamação, diminuir a dor, modular a sintomatologia e potenciar a fertilidade. A ingestão do Ómega 3 pode por exemplo tem impacto ao nível da dor, porque a sua suplementação parece retardar o crescimento de focos endometriais, reduzir a dor e inflamação, melhorando de forma geral a qualidade de vida destas pacientes.
A evitar estão as carnes vermelhas, gorduras saturadas e trans e bebidas alcoólicas, estas últimas porque promovem inflamação, stress oxidativo e interfere no metabolismo do estrogénio.
Nutrição na reumatologia
A Mestre Alexandra Cardoso falou sobre as doenças reumáticas. Não existe uma dieta específica para cada doença reumática, mas têm sido identificados diversos alimentos, nutrientes e substâncias com benefícios nos processos inflamatórios. Na ausência de um consenso pelas entidades da especialidade, as recomendações estão direcionadas á inclusão de alimentos com características anti-inflamatórias, imunomodeladoras e restrição de alimentos com propriedades pro-inflamatórias envolvidos em processos oxidativos, degenerativos e apoptóticos.
Consensual é que a dieta deve ser adaptada individualmente às patologias coexistentes e com o objetivo de prevenção, essencialmente da doença cardiovascular e síndrome metabólico de alto risco no doente reumático.
Os benefícios da terapêutica nutricional surgem após os 3 meses de intervenção dietética e intensificam-se aos 12 meses.
Sendo assim, numa dieta vocacionada para as doenças reumáticas o ómega 3 e 6, os antioxidantes a fibras e as frutas e os vegetais devem estar presentes em detrimento dos açúcares, sal gorduras saturadas, alimentos refinados e as bebidas alcoólicas.
Fazem ainda parte da terapêutica nutricional as chamadas dietas de eliminação que tal com o nome indica caracterizam-se são desenhadas para eliminar componentes dietéticos que possam estar envolvidos na resposta imunológica, como antigénios presentes nas proteínas do leite de vaca, do glúten ou da carne.
A Mestre Noélia Arruda conduziu a mesa redonda que se seguiu. Perguntas que foram colocadas pela assistência que acompanhou o programa online e também pelos que estavam fisicamente no edifício.
Seguiu-se um coffe break com produtos vegetarianos, vegan e muitas opções saudáveis. Frutas, doces com alternativas ao açúcar, queijos sem proteína animal, leites de cereais foram algumas das sugestões que deliciaram os alunos que, ao mesmo tempo que provavam, aproveitavam para fazer perguntas.
É possível prevenira a alergia alimentar?
Jorge Amil Dias, Médico Pediatra no Hospital Lusíadas do Porto trouxe o tema. A prevalência das doenças alérgicas tem vindo a aumentar nas últimas décadas e a sua prevalência estima-se em 30 por cento. Sabe-se que no período neonatal há maior risco de sensibilização alérgica. Deve-se á imaturidade física e imunológica da barreira intestinal que permite, por exemplo, que a mucosa seja mais permeável à passagem de macromoléculas. Os primeiros mil dias de vida que correspondem desde o momento da fecundação até aos 2 anos de idade, são fundamentais na prevenção das doenças alérgicas cujos comportamentos em tenra idade, podem manifestar-se dali a 20 ou 30 anos.
Há um risco genético e o risco ambiental. Juntos formam aquilo a que se chama riscos epigenéticos, que são a modelação da genética com os fatores ambientais. Podem ter consequências até às gerações seguintes. Exemplo disso é uma mulher grávida que fume. As alterações passam para o feto e consequentemente paras os descendentes deste.
Parece haver uma janela de oportunidade entre os 4 e os 7 meses, em que a introdução de alimentos pode ser mais tolerável pelo organismo e, parece também haver uma relação na variedade de alimentos e no risco de desenvolver alergias. Isto é, quanto mais variedade de alimentos forem introduzidos, menor será o risco de desenvolver alergias.
Seguiu-se uma mesa redonda onde estiveram sentados a Professora Ana Isabel Lopes, Diretora do Serviço de Pediatria do Hospital de Santa Maria (HSM), Marta Ezequiel, Pediatra, que trouxe o tema “Perturbação de Hiperatividade e Défice de Atenção (PHDA) o papel do DHA.
Marta Ezequiel, Mestre em Pediatra, trouxe o tema Perturbação de Hiperatividade e Défice de Atenção (PHDA) e o papel do DHA (ácidos gordos) no tratamento desta perturbação neuro comportamental que é amais frequente da infância e com predominância no sexo masculino. Anorexia e a Ortorexia foram temas trazidos pela Drª Mónica Pitta Grós. Os principais grupos e risco da ortorexia nervosa são estudantes de medicina, atletas, nutricionistas e caracteriza-se por uma escolha na alimentação que envolve preocupações biológicas, ambientais e saudáveis, levadas ao extremo.
Dora Estevens Guerreiro
Equipa Editorial