Um líder também chora em público.
É porventura a primeira ideia que marca o pensamento quando recebemos a triste notícia da morte de Jorge Sampaio.
Jorge Fernando Branco de Sampaio foi Presidente da República durante dois mandatos, entre 1996 e 2006. Aderiu ao PS em 1978 e chegou a líder do partido em 1989. Foi ainda presidente da Câmara Municipal de Lisboa por dois mandatos.
Após a passagem pela Presidência da República, foi nomeado, em 2006, enviado especial para a Luta contra a Tuberculose pelo secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU). E entre 2007 e 2013, foi o alto representante da ONU para a Aliança das Civilizações.
Jorge Sampaio presidia atualmente à Plataforma Global para os Estudantes Sírios, que o próprio fundou em 2013.
O Presidente da República que regeu o país durante 10 anos, surpreendeu todos com decisões que deixam grandes marcas na democracia e no verdadeiro papel de um Presidente, usando o seu poder para transformar os ideais em decisões que considerava serem as melhores para o país. Demitiu ministros do seu partido e desfez governos, acompanhou a transição de Macau e o processo da independência de Timor-Leste. Este seu último papel fez com que fosse agraciado com o Grande Colar da “Ordem de Timor-Leste”.
Outros tantos momentos marcam a sua passagem pelo palco da vida pública.
Sofreu com a dor dos que perderam a vida em Entre-os-Rios, a 4 de março de 2001. Um desastre de uma ponte que ruiu e que com ela levou 59 pessoas.
Nesse mesmo ano, Jorge Sampaio deslocou-se, em visita de Estado, ao Canadá, onde se encontrou com a comunidade portuguesa, que o recebeu em festa, e onde não conseguiu conter a sua emoção.
No ano em que Durão Barroso sucedia a Guterres para governar, novo confronto de posições acontece na cimeira dos Açores, em que Durão Barroso se colocou na fotografia da declaração da guerra ao Iraque. Jorge Sampaio discordaria da tomada de posição e proibia o envio de tropas portuguesas.
Tempos depois e com a saída de Durão Barroso do Governo, Pedro Santana Lopes assumia a posição, mas apenas por seis meses. Jorge Sampaio dissolvia a Assembleia da República e convocava eleições. Eleições essas que abririam a porta a José Sócrates e à primeira maioria absoluta do PS.
A Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa presta as suas condolências à família, em particular ao nosso tão estimado Professor Daniel Sampaio, seu irmão, e aplaude a vida de um homem que sempre manteve forte ligação à nossa Escola e que connosco celebrou momentos académicos tão importantes.
O homem de emoções fáceis e decisões difíceis mostrou que um líder também chora e, mesmo que hesite, decide por uma razão que acredita ter sido a maior. Essa é a sua grande assinatura, aquela que deixa e que o próprio reconheceu.
"As pessoas perceberam que levei isto a sério"
Fontes: Expresso e SIC
