Arrancou hoje o estudo do Instituto de Medicina Molecular (iMM) que pretende identificar a percentagem da população que contactou com o novo coronavírus, possibilitando uma estimativa da “imunidade populacional” atual no nosso país. Neste novo estudo sobre a prevalência da infeção por covid-19 em Portugal são requeridos 12 mil voluntários, em todo o país e de todas as idades, para a realização de testes serológicos gratuitos.
O Professor Bruno Silva-Santos, vice-diretor e investigador principal no iMM, é responsável pela coordenação da equipa de cientistas que está à frente do novo painel serológico nacional, e adiantou à SIC Notícias toda a informação sobre este estudo, revelando que os resultados sobre o estado serológico da população portuguesa serão divulgados no final de outubro. “É muito importante, seis meses depois do início da pandemia, termos a noção de, exatamente, qual é o ponto atual da nossa população em termos de imunidade”, referiu na entrevista onde denotou que “a produção de anticorpos não é tão efémera como parece ser comunicado por vezes”, realçando ainda que a informação recolhida vai revelar “o estado atual sobre o qual vamos construir, por um lado, a evolução desta doença rumo a uma vacina que possa trazer a tão almejada imunidade de grupo”. Em entrevista à SIC Notícias, o Professor Bruno Silva-Santos destacou, também, a “representativa da amostra” e o contributo determinante dos especialistas da Pordata e do Professor Ruy Ribeiro, que dirige a Área Disciplinar Autónoma de Bioestatística na FMUL, na definição e caracterização da amostra para o painel serológico.
O estudo, que decorre entre os dias 8 de setembro e 7 de outubro do presente ano, conta com a participação de 102 municípios de Portugal continental e ilhas, estando disponíveis 314 postos de colheita do Centro de Medicina Laboratorial Germano de Sousa, empresa cooperante neste projeto e que Bruno Silva-Santos destaca como “parceiro essencial”.
Os interessados em voluntariarem-se para o estudo podem fazer a inscrição online, registando-se na página oficial, onde é possível consultar toda a informação relevante. É também possível contactar o 808 100 062, entre as 9 e as 18 horas, para solicitar informações, tratando-se de uma linha telefónica criada com o propósito de facilitar a logística associada ao novo painel serológico, conforme explicou Bruno Silva-Santos à SIC Notícias, numa entrevista que pode ver na íntegra aqui.
De salientar que, com este estudo os investigadores esperam ainda estimar a proporção de casos assintomáticos e “identificar potenciais factores epidemiológicos e factores de risco associados à covid-19”. Para além disso, está prevista a realização de “um estudo de follow-up a um subgrupo dos 12 000 participantes para monitorização da sua resposta imunitária ao longo do tempo, num período total de 1 ano”, avança o jornal Público.
O painel serológico que está a ser desenvolvido pelo iMM propõe-se a disponibilizar “a mais completa avaliação já realizada sobre a prevalência da infecção” em Portugal, em que “é agora crítico conhecer o retrato da covid-19 que permitirá ajudar o país a equilibrar os esforços necessários à retoma social e económica com a protecção da vida”.
Já ao Diário de Notícias, Bruno Silva-Santos afirmou que "agora vamos ter uma noção completa do ritmo de transmissão associado à forma como vivemos, com as máscaras, com o distanciamento social", considerando que o estudo elaborado pelo INSA (Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge) que concluiu, em julho, que 2,9% da população portuguesa já teria anticorpos contra o novo coronavírus a partir da recolha de 2301 análises ao sangue, foi muito importante, contribuindo para estimar a prevalência da infeção logo após o período de confinamento. Contudo, "a dimensão da amostra não era suficiente para garantir que aquela prevalência era real em relação à margem de erro. Com tão poucas pessoas, a margem de erro do inquérito quase se sobrepunha ao valor do número de testes positivos", sublinhou.
Em entrevista ao DN, Bruno Silva-Santos explicou ainda, que o novo painel serológico nacional vai permitir ir mais longe na investigação, pois está previsto "um estudo sobre as várias classes de anticorpos para saber que tipo de imunidade estamos a gerar".
Para a Professora Maria Mota, responsável pela direção do iMM, o investimento neste projeto com um orçamento de dois milhões de euros, e que contou com o financiamento da Sociedade Francisco Manuel dos Santos (SFMS) e do Grupo Jerónimo Martins (JM), é de crucial importância “para viabilizar o reforço das actividades covid-19 do iMM e projectá-las no futuro, quer através da monitorização do estado serológico, quer na investigação clínica que permitirá compreender melhor a doença, por exemplo, o que distingue biologicamente indivíduos assintomáticos dos casos ligeiros e dos mais graves”.
