Hoje é dia Mundial da Hipertensão Arterial
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Não se diagnostica o que não se conhece, e não se trata o que não se diagnostica. A medição da pressão arterial é um gesto simples e importante! No entanto, só fará a diferença se as pessoas reconhecerem o seu valor!

No dia 17 de Maio celebra-se o Dia Mundial da Hipertensão Arterial, para aumentar a sua consciencialização social deste factor de risco, em particular o seu subdiagnóstico e a subvalorização, que levam uma proporção não negligenciável de pessoas a seguir os caminhos já bem conhecidos da história natural desta doença/factor de risco, que é a Hipertensão Arterial.

Com base no estudo transversal e_COR, que avaliou a prevalência de vários factores de risco cardiovascular, numa amostra de adultos representativa da população portuguesa entre 2012 e 2014, verificou-se uma prevalência de hipertensão arterial de 43%, correspondendo a cerca de 3 milhões de portugueses. Gostaria de destacar 2 achados deste estudo, em relação à hipertensão que merecem reflexão: (1) 37% do total de doentes hipertensos desconheciam o diagnóstico de hipertensão arterial; (2) Dos doentes que estavam medicados, menos de 50% estavam controlados.

A baixa literacia em saúde e a relutância terapêutica poderá estar base destes números. A ausência de sintomas em grande parte dos casos numa fase inicial constitui uma barreira para o diagnostico atempado e instituição terapêutica. Algumas das possíveis consequências da ineficácia diagnostico-terapêutica referentes a este factor de risco são: (1) AVC (acidente vascular cerebral); (2) Enfarte do miocárdio; (3) Doença renal crónica; (4) Retinopatia. O controlo da pressão arterial visa a evicção destes eventos promovendo não só a longevidade, mas também a qualidade de vida.

Neste dia decorrem habitualmente múltiplas acções de sensibilização com rastreio de hipertensão arterial através da medição da pressão arterial, exemplificando o que se deve fazer não só nesse dia, mas durante todo o ano, seja em locais improvisados para o rastreio, seja no consultório ou mesmo em casa.

A relutância e inércia terapêutica (por parte de doentes e profissionais de saúde), deverá ser contrariada pela massa crítica dos cuidados de saúde (onde também se incluem os alunos de Medicina), cabendo-nos a todos mobilizar o conhecimento e recursos para o controlo da hipertensão arterial. Na vertente terapêutica realço que a base passa pela modificação dos estilos de vida – onde destaco a necessidade de redução do consumo diário de sal para <5 gramas (relembro que em média os portugueses consomem 11 grama de sal) e a realização regular de exercício físico (para além de outras medidas a serem aplicadas individualmente como a redução de peso e/ou a cessação tabágica). Os fármacos, muitas vezes necessários, são um complemento cujas combinações existentes permitem um controlo adequado numa proporção substancial de doentes hipertensos.

É com espírito de missão que devemos olhar para este dia, esperando que em anos futuros, o dia 17 de Maio seja o dia de celebração do Diagnóstico e Controlo da Hipertensão Arterial.

Homem médico

Daniel Caldeira

Cardiologista no Serviço de Cardiologia do Hospital de Santa Maria – CHULN

Professor Auxiliar de Cardiologia e Farmacologia Clínica da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa

 

Nota: O autor optou por escrever o texto com o antigo acordo ortográfico.