“Estamos a estudar se a idade também tem impacto na produção de anticorpos que protegem da covid-19”
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senhor de camisa em pé

Em entrevista ao Diário de Notícias, o Professor Luís Graça revelou detalhes sobre os dois projetos de investigação que iniciou com a sua equipa no iMM, em março, no âmbito da Covid-19, em colaboração com o Hospital de Santa Maria, e faz ainda um balanço sobre os resultados já alcançados no projeto maior da pandemia, que mobiliza centenas de investigadores em todo o mundo com vista ao desenvolvimento de uma vacina segura e eficaz contra o SARS-Cov-2, realçando que a vacina, ao contrário dos medicamentos, será decisiva para controlar a disseminação da doença.

“Às vezes coloca-se no mesmo panorama os tratamentos médicos e as vacinas, mas o propósito de ambos e as estratégias seguidas podem não ser exatamente os mesmos. Neste momento, tem havido um esforço imenso para o desenvolvimento de vacinas e para o desenvolvimento de medicamentos mais eficazes para tratar a doença. E já se registaram avanços com dois medicamentos que estão a ter grande impacto na diminuição da mortalidade e na recuperação dos doentes. É o caso da dexametasona, que diminui a mortalidade de alguns doentes que precisam de oxigénio e de ventilação, e do remdivisir, que tem impacto direto no vírus, fazendo com que a recuperação dos doentes seja mais rápida”, revela.

Apesar de haver centenas de vacinas candidatas a uma avaliação pré-clínica e mais de 20 ensaios nas fases 1 e 2, o Professor considera que estes números não são sinónimo de um esforço maior em virtude de um vírus especial, afirmando que o SARS-Cov-2 é “muito semelhante a outros que já conhecemos bem e é o que está a permitir que plataformas que estavam a ser desenvolvidas para vacinas contra o zika e o chinkungunya estejam a ser usadas para a covid-19”. “É o que está a fazer a Universidade de Oxford, que tem uma das investigações mais avançadas. O já se conhecer a biologia deste vírus está a ser uma vantagem”, garante.

Luís Graça considera ainda que o tempo da Ciência, que não conhece medida, tem sido “extremamente rápido”. “Está a testar-se uma vacina para um vírus que não era conhecido há meses. Por exemplo, em março e abril perguntaram-me quando teríamos uma vacina. Eu respondi que, seguramente, seria muito difícil termos uma antes de 18 meses. E, mesmo assim, poderia haver dúvidas acerca da sua eficácia. Neste momento, estou muitíssimo mais otimista. Houve um esforço enorme em criar-se estratégias muito diferentes para se tentar obter este tipo de vacina. A ciência funcionou a uma velocidade muito grande e já temos resultados de ensaios clínicos das fases 1 e 2 com pessoas que já foram tratadas com estas vacinas experimentais”, adiantou, informando que “há muitas vacinas a começar ensaios de fase 3 e que vão ser testadas em milhares de pessoas em países que ainda têm muitas infeções, como os EUA e o Brasil”. Este facto acalenta o otimismo agora manifesto de que “no início de 2021 já haverá uma ou algumas vacinas disponíveis.” “Há três meses não estava tão seguro”, acrescenta.

O Professor falou também dos critérios que regem os ensaios clínicos e da “discussão” sobre o que é ou não “aceitável”, esclarecendo ainda que cabe à Política “o problema da distribuição e do acesso à vacina”. Defende que “qualquer país deverá ter uma política de acesso à vacina” e que a prioridade deve incidir nas “populações mais expostas ao vírus, como profissionais de saúde, e de maior risco, como idosos ou pessoas já com outras doenças, que poderão desenvolver consequências mais graves”.

Sobre os dois projetos em curso no Laboratório de Imunologia Celular do iMM, do qual é responsável, Luís Graça denotou em primeiro lugar que a área de trabalho a que se dedica a equipa é, precisamente, “a forma como qualquer um de nós consegue regular a produção de anticorpos fazendo que essa produção seja eficaz para combater uma infeção”.

Explicou, então, que procederam à colheita de amostras de sangue de doentes com covid-19, amostra essa que é “preservada, através da congelação de células do sistema imunitário”, procurando “perceber se as características destas células do sistema imunitário podem ser ou não um fator preditivo de quais são os doentes com covid-19 em quem a doença irá agravar-se ou em quem irá seguir um curso mais favorável”.

O outro projeto de investigação está relacionado “com pessoas mais idosas e com algumas doenças crónicas. Sabe-se que estas têm menor facilidade em produzir anticorpos após vacinação. O que estamos a estudar é se a idade também tem impacto na produção de anticorpos que protegem da covid-19 e na eficácia das vacinas”, revelou, sustentando que esses resultados podem ter um impacto muito positivo no planeamento de “melhores estratégias de vacinação” para grupos da população mais vulneráveis.

Em declarações ao DN, Luís Graça sublinhou, ainda, “o facto de ser normal não haver uma unanimidade entre cientistas em relação a avanços científicos”, numa entrevista em que falou de anticorpos, de reinfeção e da, fortemente especulada, hipótese de uma segunda vaga de covid-19, para ler na íntegra aqui.