Dia Nacional de Luta contra a Obesidade
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Assinala-se a 22 de maio de 2021 o 17º Dia Nacional de Luta contra a Obesidade. Este dia foi criado em 2004 e é celebrado no penúltimo sábado do mês de maio. Foi criado com o intuito de sensibilizar a população para o problema da obesidade e das doenças associadas, assim como das implicações da obesidade na saúde. A data pretende ainda promover a prática de exercício físico, de forma a prevenir o aumento da obesidade, em especial a infantil e juvenil, assim como incentivar a adoção de hábitos alimentares saudáveis.

À data da criação desde dia, a Direcção-Geral de Saúde considerou que, caso nada se fizesse para combater esta realidade, cerca de 50% da população portuguesa poderia ser obesa em 2025. Hoje, 17 anos depois e a menos de uma mão cheia de anos para 2025, questiono: O que foi feito? Como se mitigou este grave problema de Saúde Pública? Que prioridade foi dada à promoção da saúde?

Decorridas quase duas décadas, continuamos a dizer que:

  • A obesidade é um dos principais fatores de risco para a morte prematura;
  • A obesidade está associada a 4,7 milhões de mortes em todo o mundo em 2017;
  • A obesidade é responsável por 8% das mortes globais em 2017;
  • A obesidade é o 4º fator de risco que mais contribui para o número total de mortes (9,4%) em Portugal em 2017 (5º fator de risco em 2004);
  • Mais de 20% da população adulta é obesa e mais de 60% tem excesso de peso em Portugal em 2016 (15,4% e 53,3% em 2004);
  • 31,7% das crianças entre 2-4anos (2016) e 29,6% entre 6-8 anos têm excesso de peso em Portugal (2019) (31,7% e 35,6% em 2010, respetivamente);

Os números falam por si, é inquestionável a necessidade de ação. Ação efetiva e dirigida. Uma aposta na promoção da saúde.

No contexto pandémico que o país ainda atravessa associado à Covid-19, é evidente e inquestionável o impacto da severidade da doença diretamente associada com a presença de obesidade. Por condicionantes sociais e económicas decorrentes da pandemia, a população ficou ainda mais vulnerável. A evidência mostra-nos que a obesidade é mais prevalente em grupos vulneráveis (crianças e idosos, níveis de escolaridade e rendimento mais baixos, insegurança alimentar), pelo que se projeta que a prevalência possa vir a crescer nos próximos anos, realçando ainda mais as desigualdades em saúde. Mais do que uma necessidade de prestação de cuidados diferenciados, especializados e individuais, é de Saúde Pública que falamos. A narrativa tem de mudar e o reconhecimento tem de existir. Alinhada com esta necessidade, a World Obesity identifica as 5 prioridades para onde a ação tem de ser direcionada: obesidade como doença; determinantes comerciais da obesidade; obesidade infantil; obesidade na cobertura universal de saúde; estigma do peso.

Quando falamos de obesidade, os resultados são mais robustos quando a aposta é feita na prevenção e não no tratamento. Torna-se emergente que os cuidados de saúde na comunidade e a ação de proximidade seja dotada dos recursos profissionais e técnicos de excelência e necessários para combater de forma efetiva esta realidade. Quando me refiro na ação de proximidade e na comunidade, destaco a importância e responsabilidade do poder local, das escolas, dos locais de trabalho, da indústria alimentar, da restauração e do retalho alimentar. Todos são fundamentais para uma comunicação e capacitação ajustada às necessidades da população. Temos grupos distintos, com características e necessidades distintas, não podemos pensar que o todo chega às partes, quando neste contexto as partes são as mais vulneráveis. 

É verdade que temos assistido nos últimos anos à construção e desenvolvimento de uma Política Alimentar e Nutricional Nacional, é verdade que o reconhecimento da necessidade de ação no domínio da alimentação e atividade física existe e está explanado na definição de dois programas prioritários de saúde a nível nacional (Programa Nacional para a Promoção da Alimentação Saudável e Programa Nacional para a Promoção da Atividade Física), mas não podemos baixar os braços e temos de encarar esta realidade como uma verdadeira prioridade de Saúde Pública de responsabilidade nacional, local e individual.

Professora Joana Sousa. mulher cabelo comprido

Joana Sousa

Professora FMUL | Laboratório de Nutrição

Nutricionista | Especialista em Nutrição Comunitária e Saúde Pública