“Desmistificar com Ciência” no Dia Mundial da Alimentação
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mulher a jantar

Celebra-se hoje o Dia Mundial da Alimentação e o tema internacional deste ano não poderia ser mais ajustado aos tempos atuais, com uma mensagem urgente e fundamental: “Crescer, Nutrir, Sustentar. Juntos.”

Crescer de forma saudável e consciente, nutrir de forma adequada e igualitária, sustentar por forma a garantir às populações de todo o mundo o acesso a alimentos nutritivos e seguros. E tudo isto só é possível se abraçarmos juntos essa missão, uma missão que urge cumprir numa ação concertada e integrada na resposta à atual pandemia. Aliás, a pandemia de Covid-19 abre a janela da oportunidade para a implementação de “soluções inovadoras baseadas em evidências científicas para que possam reconstruir e melhorar os sistemas alimentares, tornando-os mais resistentes”.

E é de evidência científica que falamos neste Dia Mundial da Alimentação, porque as escolhas adequadas são aquelas que primam pelo rigor da Ciência. E conscientes de que o conhecimento científico é o antídoto da desinformação, o Laboratório de Nutrição da FMUL editou alguns dos principais mitos sobre a alimentação num e-book intitulado “Desmistificar com Ciência”.

Cada capítulo é dedicado a um tema, comprovando-se factos que resultam de vários trabalhos de investigação desenvolvidos até à data.

A gordura corporal, o vegetarianismo em idade pediátrica, a alimentação biológica e a pandemia da Obesidade, que convive com a Covid-19, são alguns dos tópicos incluídos numa obra que conta com a colaboração de vários autores e que estará disponível para o público muito brevemente.

criança segura tomates maduros diante dos olhos

 

homem a regar alface biológica

 

“Desmistificar com Ciência” explica aos leitores o porquê de não ser “possível aconselhar o consumo de alimentos biológicos como forma de obter ganhos em saúde”, bem como a utilização “saudável, segura e conveniente” do micro-ondas “para aquecer ou confecionar alimentos em recipientes apropriados”; esclarecendo ainda que o pequeno-almoço “é positivamente associado a todos os domínios da saúde (física, mental e social) para a população em geral, independentemente da etapa do ciclo de vida em que se encontra o indivíduo”; que “o consumo de carne pode ser recomendado em quantidades adequadas, reforçando a sua importância como parte integrante de uma alimentação equilibrada”; “o consumo de até um ovo por dia é seguro e não representa um aumento no risco de doenças cardiovasculares”; “o óleo de coco não será de todo uma boa opção para a população geral”, podendo até “assumir uma posição deletéria em termos de saúde”.

Para além disso, é desconstruída a ideia de que “os hidratos de carbonos (HC) fazem mal”, dado que “A longo prazo uma baixa ou elevada ingestão de HC está associada a um maior risco de mortalidade” e explica-se que “os produtos isentos de lactose não têm efeitos nutricionais diferentes no organismo humano quando comparados com os produtos lácteos comuns”.

vários tipos de pão e cereais numa mesa

 

homem a segurar copo de leite

 

A dieta isenta de glúten, que “tem sido de algum modo apresentada como uma abordagem nutricional mais saudável, em que o glúten é erradamente apontado como um componente potencialmente prejudicial na alimentação humana”, é também analisada ao detalhe no livro digital do Laboratório de Nutrição. Aquela que é considerada “o único tratamento efetivo para a doença celíaca” não tem elementos de prova, do ponto de vista científico, que suportem a existência de benefícios em indivíduos sem qualquer sintomatologia associada ao consumo de glúten.

E porque a desinformação tende a ocultar a verdade, no e-book “Desmistificar com Ciência” abordam-se também os mitos relacionados com as “interações entre a alimentação, a obesidade e a COVID-19”, com vista à promoção de “mais literacia a este nível e mais saúde na população”.

homem obeso

É-nos então explicado que “a evidência cumulativa sugere que os indivíduos com obesidade (i.e. com acumulação excessiva de tecido adiposo) têm um risco aumentado de sintomatologia/doença grave associada à COVID-19, hospitalização e mortalidade”. E se é facto que “perdas de peso de apenas 5 a 10% já acarretam melhorias substanciais ao nível da saúde metabólica dos indivíduos”, é igualmente evidente que as medidas de contenção decorrentes da pandemia de Covid-19 “impuseram, inevitavelmente, alterações no estilo de vida dos indivíduos, particularmente no que respeita à ingestão/comportamento alimentar e aos padrões de atividade física”. Uma realidade potencialmente comprometedora da gestão da obesidade, que é uma doença “crónica, complexa e recidiva e, como tal, requer tratamento continuado, com alterações comportamentais sustentadas a longo prazo”.

Até ao momento, “não existe evidência de que os alimentos, cozinhados ou crus, constituam veículos de transmissão do novo coronavírus”, parecendo “existir também consenso relativamente a nenhum alimento ou padrão alimentar específico poder prevenir ou tratar a infeção por SARS CoV-2”.

Todavia, “o papel que um estado nutricional adequado pode ter na otimização do sistema imunitário, na redução dos processos inflamatórios e no controlo metabólico, não pode ser descurado. Neste sentido, a promoção de uma alimentação saudável e segura é essencial”. Para além disso, “combater a desinformação nesta área e promover uma alimentação saudável na população, são caminhos certos a percorrer”.

mulher com bata branca a segurar alimentos e fita métrica

“O Dia Mundial da Alimentação clama por solidariedade global para ajudar todas as populações, especialmente as mais vulneráveis, a recuperarem da crise e tornar os sistemas alimentares mais resistentes e robustos para que possam resistir à volatilidade crescente e choques climáticos, fornecer dietas saudáveis ​​acessíveis e sustentáveis para todos e meios de subsistência adequados para os trabalhadores do sistema alimentar”. Saiba mais sobre a mensagem do Dia Mundial da Alimentação aqui.

Por fim, mas não menos importante, reforçamos a importância de fazer escolhas saudáveis, não se deixando levar por modas ou mitos sem fundamento científico. Alimente-se de Ciência, cuide da sua alimentação e mantenha o corpo e mente sãos através de uma dieta equilibrada sempre ajustada às suas necessidades.

E lembre-se que uma vida mais saudável é sempre uma vida mais feliz.