Covid 19: A situação em Portugal
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professores no auditório

O Professor Manuel Carmo Gomes, conhecido epidemiologista que passou a entrar com alguma regularidade em casa dos portugueses, através da comunicação social, devido ao surgimento da Covid 19, veio no dia 7 de novembro ao iMM a convite de Luís Graça, Investigador e subdiretor da FMUL para falar sobre a situação em Portugal.

Muitos gráficos, muitas conclusões, mas sobretudo muitas dúvidas sobre um vírus que já teve 4 variantes e múltiplas subvariantes. Cada uma com graus de transmissibilidade diferentes e com maior ou menor gravidade na manifestação da doença.

As expectativas recaem agora na próxima sexta-feira com a reunião do Infarmed de onde podem sair medidas de contingência para fazer face ao inverno, por regra um período mais agressivo na transmissibilidade e incidência do SARS-CoV-2.

A decisão de revogar o anterior estado de alerta veio na sequência da reunião do Conselho de Ministros do dia 29 de setembro e, segundo os argumentos dados na altura, pelo Ministro da Saúde, foram  “em função do elevado nível de vacinação da população portuguesa, da proteção conferida pela vacina e da menor agressividade das estirpes de SARS-CoV-2 que estão neste momento em circulação, a incidência da doença e sobretudo o seu impacto na saúde das pessoas e no funcionamento do sistema de saúde tem-se mantido estável e controlado”, explicou Manuel Pizarro deixando ainda o conselho de que era “essencial continuar a vigiar a evolução da doença e conferir prioridade à vacinação, em especial das pessoas que estão em maior risco.”

Professor no auditorio

Voltando à lecture do Prof. Manuel Carmo Gomes, que decorreu perante uma plateia cheia e interessada, foram sendo apresentados vários gráficos com conclusões daquilo que já é possível afirmar sobre este vírus e a forma como se manifesta. Também as respostas da sociedade foram objeto de estudo. O objetivo é perceber se estamos melhor preparados para uma nova onda.

Dados apresentados: “a variante Alfa foi a que provocou mais hospitalizações” mas, em junho de 2021 metade da população já estava vacinada e foi possível controlar o número de casos, mais eficazmente. “Atualmente, existem duas novas subvariantes, a XBB descoberta na índia e a BQ.1 no Brasil”, fez saber. Que desafios trazem?

Nos dados apresentados, é possível perceber que em todas as épocas em que foi feito maior número de testes, o número de infeções desceu. Ou seja, fazer testes é indispensável para controlar as transmissões. Mas com que velocidade cresce a pandemia? “Sabe-se que sempre que o RT está acima de 1, é altura para tomar decisões, porque dali a um mês vai haver o reflexo destes números”, a manifestação da doença na sociedade com todas as consequências nas urgências e nos internamentos dos hospitais. No entanto, a sociedade não está disponível para medidas constrangedoras, porque ainda não se sente ameaçada já que a incidência ainda é baixa, “mas vai chegar”, garantiu o Professor. No início da pandemia e com o lockdown em Portugal, conseguiu-se evitar muitas transmissões e fomos vistos como “o bom aluno”.  O número de testes permitiu isolar os casos positivos e fazer o tracking dos contactos de risco, contudo, estas ações só são possíveis em períodos em que não haja pressão. “Quando estamos a viver picos, ou na crista da onda, não é altura para fazer estas tarefas”, reforçou.

No primeiro trimestre de 2021 a taxa de letalidade da variante Alfa foi muito elevada, atingindo principalmente as pessoas acima  dos 80 anos,  a explicar esses números estão as épocas festivas de 2020.

 

Grafico com numeros da letalidade em PT por covid 19

 

Quais são os dados relevantes para seguir o rasto da pandemia? O número de mortes causadas, as entradas nos hospitais e os dados clínicos, a ocupação hospitalar, quantos casos diários de infeção, a positividade que vem do número de testes feitos e dos casos positivos que daí resultem a serologia e o número de pessoas que está protegido pela vacinação. Com estes dados fornecidos atempadamente, muitas vezes vêm com um mês de delay, é possível fazer uma leitura da pandemia.

Foto de um gráfico com dados covid 19

 

As formas de controlar uma pandemia passam por testar o maior número de pessoas, seguir os contactos de risco, proceder ao isolamento e numa situação mais gravosa ao lockdown. O problema é que nem sempre os interesses políticos andam de braço dado com a ciência, disse Manuel Carmo Gomes.

O ideal é a criação de bases de dados diversificadas e que possam ser trocadas entre vários organismos. Vão permitir ter uma amostragem grande e quanto maior for mais possibilidades de estudo há e mais próximo da realidade será. O exemplo do Reino Unido, surgiu como exemplo onde isso acontece e onde uma série de burocracias e questões legais foram levantadas e ultrapassadas.

Os mais velhos são sempre os mais afetados, portanto é importante estabelecer medidas de proteção que os visem diretamente, mas não nos podemos esquecer que os efeitos de uma pandemia tem efeitos nefastos na economia e no tecido empresarial e consequentemente social de um país, por isso, quanto mais estudos e houver, mais facilmente os investigadores podem aconselhar os decisores políticos na tomada de decisões que podem fazer a diferença na vida de todas as pessoas.